quarta-feira, 16 de maio de 2012

"O Inventário de Julio Reis" e o desafio de Molica


No início do século XX, o compositor paulista Julio Reis (1863-1933) luta para brilhar na capital federal e se desespera com as mudanças na música. Décadas depois, Frederico, filho do maestro, tenta impedir que seu pai seja esquecido e se dedica, até o fim da vida, a resgatar sua memória e sua obra. Neste romance, o escritor Fernando Molica, bisneto de Julio Reis, conta ficcionalmente a história do músico, de seu filho e de um tempo de grandes transformações. Em entrevista à Shahid, Molica fala sobre o prazer e os desafios de reproduzir a trajetória deste personagem.

O que você sabia sobre Julio Reis, como bisneto dele, antes de escrever o livro?
O conhecimento sobre Julio Reis veio do meu avô Frederico Mário, com quem convivi muitos anos (quando ele morreu, eu tinha 31 anos). Lá pelo início da minha adolescência, eu fiquei sabendo que meu bisavô tinha sido compositor de sinfonias e óperas, achei isso muito legal, interessante. Meu avô dedicou-se muito à ideia de recuperar a obra do pai, fazê-la voltar a circular, mas infelizmente não conseguiu. Depois da morte do meu avô, acabei ficando com o acervo do Julio Reis – partituras manuscritas, recortes de jornais. Durante um bom tempo não sabia bem o que fazer, até que resolvi escrever um romance baseado em sua vida.

O Inventário de Julio Reis é uma obra de ficção, porém baseada na trajetória real de Julio Reis na cidade do Rio de Janeiro. O que é ficção e o é realidade no livro?
É muito difícil separar ficção e a chamada realidade. Uma mesma realidade ganha relatos diferentes quando contada por diferentes pessoas. Não inventei títulos de composições, ele é autor de tudo o que é citado, procurei ser rígido neste ponto. Mas o acervo deixado pelo Julio Reis é amplo, porém muito, digamos, duro. Eu tinha ali muito material crítico, reportagens, resenhas, além das partituras. Faltava dar uma cara, uma personalidade, buscar entender os desejos, os sonhos, os amores e as frustrações daquele personagem que viveu numa época de tantas mudanças. Não daria para fazer uma biografia formal, eu não tinha elementos nem vontade para isso. O que busquei foi interpretar aqueles papéis, criar uma espécie de variação ou fuga - para usar uma linguagem musical - em torno das vidas do Julio Reis e de seu filho Frederico.

Como a vida no Rio influenciou a arte de Julio?
O Rio, então capital federal, vivia um período de muitas mudanças, de consolidação da República, de profundas alterações urbanísticas. Foi a época de revoltas populares e militares, de remoção de milhares de pessoas, de construção das grandes avenidas. Julio Reis era um compositor de características românticas, apegado à tradição da música europeia. De certa forma, ele foi atropelado pelas mudanças, pelas modificações na própria música. Ele não aceitava a modernização empreendida por compositores como Debussy e, um pouco mais tarde, por Villa-Lobos.

O que você destacaria de sua obra?
Eu não sou músico, não sei ler partitura. Agora é que estou começando a conhecer um pouco a obra do Julio Reis. Conheço apenas gravações de uma valsa, Alvorada das rosas, feita para o flautista Patápio Silva. No lançamento do livro, o pianista João Bittencourt tocou algumas outras peças - polcas, mazurcas, tangos brasileiros. E, no dia 20, a Orquestra Sinfônica UniRio executou Vigília d'armas, uma sinfonia que não era tocada há 89 anos. No próximo dia 3 haverá outro concerto. Lá no meu site – www.fernandomolica.com.br – eu criei um espaço para o Julio Reis, coloquei dezenas de partituras que podem ser baixadas.

Por que você acha que a história dele ficou esquecida? O que há de mais importante neste resgate que você fez?
Ele se dedicou a um tipo de música que não chega a ser muito popular. Muitos compositores da chamada música clássica ou erudita também acabaram esquecidos, as orquestras se dedicam mais ao repertório mais consagrado. Pouco se sabe até mesmo dos compositores brasileiros contemporâneos. Além disso, Julio Reis remou contra a maré ao se posicionar contra a modernidade. O resgate é, talvez, uma consequência do livro. Mas, insisto, o livro é uma obra de ficção que só tem compromisso com a própria história que é ali contada. O inventário de Julio Reis é um romance que, por acaso, se baseia na vida de pessoas que existiram, mas ele deve se sustentar como ficção e não como biografia. O resgate da obra do compositor é algo que ocorre de forma paralela, tanto que, no meu site, eu coloquei uma pequena biografia história do Julio Reis, baseada nos documentos que ele deixou.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

"Boa ventura!", agora em Portugal


Fevereiro de 1876. O falido rei D. Luís I vasculha os cofres portugueses à procura de joias que possam ser vendidas para pagar dívidas. Na busca, ele encontra uma pepita de ouro de pouco mais de 20 quilos, do tamanho de um melão. Esquecida por décadas nos Tesouros Reais, a pedra retirada de solo brasileiro é o último remanescente de uma época de riqueza incalculável para o velho império lusitano.

É com esta cena que o jornalista Lucas Figueiredo dá início à reportagem histórica que resultou no livro Boa Ventura!, publicado pela Record em 2011. Agora, a obra é lançada também em Portugal, pela Editora Marcador e com novo título: A última pepita. Elogiada por Laurentino Gomes, a aventura narra a dura e demorada trajetória de monarcas perdulários e administradores corruptos em direção às nossas riquezas minerais – logo pulverizadas por toda Europa.

A Shahid se orgulha de ter conduzido o processo de venda dos direitos e publicação fora do Brasil de obra tão bem produzida. O escritor Lucas Figueiredo já acumula três prêmios Esso – o mais importante do jornalismo nacional – e a autoria de outros quatro livros-reportagem.