segunda-feira, 27 de maio de 2013

Raimundo Carrero na Shahid

O escritor pernambucano Raimundo Carrero, vencedor de prêmios literários importantes como o Machado de Assis (1996 e 2010), o Jabuti (2000) e o São Paulo de Literatura (2010), é o mais novo cliente da Shahid – em parceria com o agente literário Stephane Chao.

Músico profissional nos anos 1960, e com uma carreira literária de mais de três décadas, Carrero deixa a musicalidade transparecer em sua literatura. Seu novo romance, Tangolomango - Ritual das paixões deste mundo – o primeiro publicado após sofrer um AVC, em 2010 – é, segundo o autor, o mais musical. "É como se o frevo pudesse falar", explica. A narrativa é toda pontuada por marchas carnavalescas, recentes e antigas, tristes e alegres.

Tangolomango conta a história de tia Guilhermina, uma mulher solitária, pura e ao mesmo tempo despudorada, que criou o sobrinho Matheus e sente por ele uma paixão que busca rejeitar. Mas não apenas. Ele convida o leitor a acompanhar, passo a passo, a história íntima, psicológica e secreta de toda uma geração de brasileiros que viveu os anos turbulentos do século 20. Tia Guilhermina conhece, em sua trajetória de vida e de sonhos, todos os caminhos que formam e estruturam um povo.

Trata-se de um romance curto e incisivo, marcado pela força literária e domínio técnico do autor.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Sacudindo o pó da estrada

O romance de estreia do cineasta Antônio Ernesto Martins, recém-lançado pela KBR Digital, resgata um capítulo de suas próprias memórias: Sacudindo o pó da estrada conta como o personagem Toninho tornou-se dependente de cocaína – e como lutou para se livrar do vício. O pano de fundo é o Rio de Janeiro, testemunha de uma série de fatos históricos  e começando a ser tomado pelo tráfico. Nesta entrevista o autor revela como se deu esse processo de escrita que mistura lembranças (sofridas), ficção e história. Como ele mesmo avalia, o livro não se pretende de autoajuda, muito menos espera dar a solução para um problema tão antigo e profundo como o abuso de drogas. "É apenas um relato de um homem que viveu essa dificuldade e não se acomodou diante dela."

Por que a decisão de compartilhar esta história, inspirada numa experiência tão pessoal?
Entendi que esta história deveria ser contada, pois ao mesmo tempo em que traz questões e experiências tão particulares de minha vida, também apresenta um conflito universal que é a luta do homem contra ele mesmo em sua eterna busca pelo equilíbrio e aperfeiçoamento. Escrever sobre qualquer assunto nunca é uma decisão fácil e, no caso de meu livro, havia ainda a proposta do "me despir", "me revelar" de maneira sincera e abrangente sobre um tema que ainda carrega inúmeros estigmas. Um desafio que procurei encarar com coragem e, claro, enfrentando inúmeros questionamentos.

Como foi esse resgate de memórias?
Foi um processo intenso, em alguns momentos sofrido, mas com um saldo muito positivo. Nossas realidades ou nossas ficções estão sempre sendo construídas através do que selecionamos em nossa memória e do momento histórico em que estamos inseridos. Quando comecei a escrever, me vi obrigado a organizar fatos e sensações adormecidas com a preocupação de estruturar uma narrativa interessante. Levei dezoito meses para terminar o livro, com um intervalo de seis meses em que deixei o texto descansando, para retomá-lo em seguida com uma visão mais crítica.

O livro mistura relatos da experiência de Toninho com as drogas, mas também recupera eventos políticos e históricos testemunhados pelo Rio de Janeiro. Esse processo exigiu também pesquisas?
Logo no início, percebi que Toninho havia participado de uma grande quantidade de fatos ligados a vida social, cultural e política do Brasil, particularmente do Rio de Janeiro. Mantendo a questão da luta do personagem contra a cocaína e os desdobramentos desse conflito em sua vida como o viés central da história, procurei usar esses acontecimentos como pano de fundo. Assim vemos Toninho interagindo com as Diretas Já, a abertura democrática, a explosão do rock nacional, o Circo Voador, a Fluminense FM, a epidemia da AIDS e outros acontecimentos que coincidiram com o grande boom da cocaína do Rio de Janeiro no início dos anos 1980. Em alguns momentos foi necessária uma pesquisa mais aprofundada para garantir principalmente uma coerência cronológica e a citação correta de alguns nomes.

Você trabalha com cinema e TV. Em algum momento pensou que esta história daria um filme? Por que a escolha de escrever sobre ela?
Antes do livro eu já havia escrito um argumento para um longa-metragem, mas que não se realizou por questões falta de patrocínio. Acabei transformando esse argumento em um curta-metragem que vou lançar agora em junho e que se chama O brilho. O trabalho foi feito graças à adesão de uma equipe de profissionais e atores experientes que acreditaram na proposta. O filme é uma ficção genuína e assumida. Já no livro tive a oportunidade de exercitar minha paixão pela literatura em uma jornada mais solitária. Espero que a repercussão do curta nos festivais de que vai participar abra algumas portas para a realização do longa.

De que forma você acha que o conhecimento sobre a sua história pode evitar outras parecidas?
O livro não tem a pretensão de apresentar fórmulas ou soluções mágicas para um problema tão antigo e profundo como o abuso de drogas. Tampouco é um livro de autoajuda na concepção rotulada pelo mercado. É apenas um relato de um homem que viveu essa dificuldade e não se acomodou diante dela. No entanto, a trajetória do personagem pode servir de ferramenta para a abertura de um novo espaço de discussão, privilegiando o ponto de vista do viciado. Mesmo que apenas uma única pessoa se sinta inspirada pelo livro a enfrentar esse desafio, já terá valido a pena.

Espera que a sua relação com a literatura se estenda para além deste primeiro romance?

Nos anos que passei lutando contra a cocaína, acabei me afastando de muitas paixões realmente prazerosas. O ato de desafiar o papel (agora a tela de computador) em branco sempre me fascinou. Contar histórias é meu oficio e me utilizo de diferentes recursos para isso. Isso me mantém vivo. E não pretendo parar mais, já que hibernei por tempo suficiente. Embora ainda não tenha decidido qual será meu próximo livro, tenho plena confiança de que outros virão, graças a Deus.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Lançamento de "Gado novo", de Guille Thomazi


No interior do Mato Grosso uma menina é assassinada. Cinco personagens são tocados por esse crime sem que, necessariamente, o tenham presenciado ou saibam do ocorrido. Um a um, eles narram o seu dia à medida que tomam conhecimento do fato ou que os desdobramentos os atingem.

Assim é o romance Gado novo (7Letras), do jovem escritor catarinense Guille Thomazi, que será lançado nesta sexta-feira, 17, às 19h, na Livraria Serrana, em Lages, Santa Catarina. 

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Entre a ação e o suspense

Luis Eduardo Matta começou a escrever aos 17 anos, depois que viu uma entrevista com Jorge Amado na TV. Não parou mais. Hoje tem 11 livros publicados, para adultos e jovens (muitos adotados em escolas), do gênero thriller – relativamente recente na nossa ficção, como ele mesmo explica, e que mistura suspense e ação. Suas influências literárias também são variadas – de Agatha Christie a Borges, de Barbara Cartland a Dostoievski. Prestes a lançar A outra face do desejo pela Primavera Editorial – o lançamento será nesta terça-feira, dia 7 –, Matta conversou com a Shahid sobre o gênero policial de seus livros, o processo de construção de suas narrativas e a responsabilidade (e o prazer) de escrever para jovens.

Em seu site você diz que se especializou em tramas de mistério e suspense fora da estrutura clássica da ficção policial. Qual seria esse padrão clássico e que elementos você traz de novo?
O que se convencionou chamar de ficção policial clássica é a história de mistério onde um dos personagens desempenha o papel de detetive/investigador e o enigma a ser desvendado funciona como fio condutor da trama. Meus livros não seguem muito essa linha investigativa. São histórias mais complexas do ponto de vista narrativo nas quais não só o mistério, mas também o suspense e a ação desempenham papel importante. Esses livros são mais conhecidos como thrillers, embora muita gente discorde dessa designação, por se tratar de um estrangeirismo. Mas o fato é que não existe na língua portuguesa um termo que traduza exatamente o significado de thriller. Talvez até por esse gênero ser relativamente recente na nossa ficção.

A outra face do desejo, lançado nesta terça-feira pela Primavera Editorial, mistura história de amor, paixão, vingança e crime. De onde veio a ideia para essa trama específica?
Foi em meados de 2006. Um amigo que trabalhava numa grande editora comentou que eles estavam interessados em publicar um romance brasileiro na linha dos livros de Nora Roberts e Barbara Delinsky, duas autoras americanas de ficção romântica, e me sugeriu que eu fizesse isso. Achei a proposta atraente e logo comecei a escrever a história. Até que lá pela página 15 ou 20 tive a ideia de matar um personagem e percebi que não resistiria a adicionar um clima de mistério e suspense à trama. Daí tive que reformular o projeto e reescrevi o que já estava pronto, mantendo a temática romântica, mas transformando a empreitada num thriller.

Como autor de policiais, que tipos de conhecimentos você precisa buscar para escrever? Além do processo de criação, seu trabalho inclui pesquisas?
Inclui, porque eu não me inspiro na minha vida ou na minha maneira de enxergar o mundo para escrever. Procuro sempre criar uma galeria de personagens diferentes uns dos outros e que não tenham nada a ver comigo, além de reproduzir cenários e tratar de assuntos que não fazem parte do meu cotidiano. Então preciso pesquisar bastante para que a trama faça sentido e soe verossímil. É uma pesquisa por um lado teórica e, por outro, feita dia após dia por meio do convívio humano e da observação do que se passa à minha volta.

Além de ficção policial, você escreve thrillers infantojuvenis, como O diário perdido de Pernambuco, lançado ano passado. O que é necessário ter em mente para escrever para esta faixa-etária?
Acho que, fundamentalmente, é preciso respeitar a inteligência dos jovens leitores e criar tramas que os surpreendam, que não sejam condescendentes com o estereótipo do adolescente, o que é horrível. Tenho horror a estereótipos. Ao começar a escrever ficção juvenil, minha ideia foi passar para os jovens de hoje a mesma experiência positiva que eu tive na minha iniciação como leitor, durante a adolescência. Fico feliz por isso estar funcionando.

Vários de seus livros juvenis são adotados em sala de aula. Que cuidados essa responsabilidade passa a exigir do escritor?
Meu processo de escrita é o mesmo para os livros juvenis e os adultos. As pesquisas são igualmente rigorosas. A responsabilidade é grande, porque é na adolescência que a maioria das pessoas faz a opção ou não pela leitura. As visitas escolares, que faço com frequência, são uma possibilidade de conversar com a garotada sobre questões como o prazer da leitura e a desmistificação do objeto livro como algo restrito aos intelectuais. A boa notícia é que os adolescentes estão lendo cada vez mais.

Quando e como você começou a escrever? Que escritores considera referência para a literatura?

Comecei para valer em 1992 depois de assistir a uma entrevista de Jorge Amado e Zélia Gattai na televisão. Eu tinha 17 anos. A entrevista me deu fôlego e três meses depois terminei meu primeiro livro, Conexão Beirute-Teeran, que foi lançado no ano seguinte. Ainda hoje Jorge Amado é minha maior influência como escritor. Na literatura de mistério, esse papel coube a Agatha Christie. Mas minhas referências são variadas, pois leio de tudo: Dostoievski, Borges, Joseph Finder, Barbara Cartland... Alguns poderão considerar essa seleção errática e inconsistente, mas eu não vejo sentido em segregar a literatura dentro de rótulos incomunicáveis entre si.