sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Ana Paula Maia, habitante de outros mundos


Com quatro romances publicados, escrita irreverente e paixão pelo que faz – sobretudo pelas possibilidades da literatura –, Ana Paula Maia relança nesta terça-feira (18) O habitante das falhas subterrâneas (Oito e meio), agora para o público jovem. Neste livro que marcou sua estreia na literatura, editado pela primeira vez em 2003 (7Letras), a autora reconta a história de Ariel, jovem inquieto que se lança a escrever sobre suas angústias e descrenças no mundo. Nesta conversa com a Shahid, Ana Paula fala sobre inspirações e amadurecimento, elogia a nova edição do livro e adianta sua próxima obra, De gados e homens, que sairá pela Record em 2013.

O habitante das falhas subterrâneas é inspirado no clássico O apanhador no campo de centeio, do escritor americano J.D. Salinger. Por que optou por essa referência? Como foi escrever em primeira pessoa a história de um garoto de 17 anos em conflito?
Esse livro foi escrito no início de 2002. Eu ainda tinha muitas lembranças da minha adolescência, porém, ela não é contada no livro. Já as sensações e intenções do personagem são semelhantes às de muitos adolescentes. O apanhador no campo de centeio foi um livro muito importante na minha formação como leitora e escritora. O habitante foi o primeiro livro que escrevi e foi importante me pautar numa referência tão forte como a do Salinger. A partir do segundo livro, caminhei por conta própria. Estar na cabeça de um garoto de 17 anos não foi complicado. Pensei como eu pensava nessa idade.

A primeira edição de O habitante é de 2003, quase dez anos atrás. Por que a ideia de agora adaptá-la ao público jovem? Que mudanças foram feitas para a nova edição?
Nesta reedição tive o cuidado de retirar os palavrões, por exemplo. E alguma apologia às drogas. É o mesmo livro, porém o personagem não é um desbocado. A trama permanece e enxuguei algumas páginas das quais eu não gostava. Essa edição está arejada, mais organizada e bonita. O livro ainda conta com um índice de referências, pois, embora a história se passe no início dos anos 2000, tem muitas referências pops de décadas anteriores.

O que mudou na escritora Ana Paula Maia ao longo desse tempo?
Minha escrita se encontrou quando escrevi meu segundo romance (A guerra dos bastardos, 2007) e posso dizer que se firmou quando escrevi o terceiro (Entre rinhas de cachorros e porcos abatidos, 2009). Não é fácil encontrar a própria voz na literatura, mas quando ela existe na sua cabeça, na sua alma, ela sai.

Em 2006 você publicou o primeiro folhetim pulp da internet, a novela Entre rinhas de cachorros e porcos abatidos. O que isso significou para a sua carreira de escritora?
A publicação do folhetim em si significou pouco, mas encontrar o Edgar Wilson fez toda a diferença para meus textos e para mim. Esse personagem é parte viva da minha literatura.

Seu próximo romance, De gados e homens, está para sair pela Record em 2013. O que podemos esperar dele?
Esse livro é um projeto que eu já queria escrever faz uns três anos. Antes, escrevi Carvão animal. Em De gados e homens, o elemento sobrenatural aparece pela primeira vez, mas só lendo o livro para saber como, se não estraga a surpresa. Edgar Wilson é o protagonista dessa história que acontece dois anos depois de Carvão animal e, ao lado dele, alguns personagens importantes surgem, como o caçador e capataz chamado Bronco Gil. Um tipo que me agradou muito na história. O livro se desenrola num matadouro de gado bovino numa região fictícia, mas que se parece com várias partes do Brasil. A cidade é fictícia e os personagens também, mas o que acontece lá é real e faz parte de nossas vidas.

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