Dramaturgo
premiado, letrista, diretor, escritor, atualmente um dos roteiristas do seriado
da TV Globo "Pé na cova". Assim é Luiz Carlos Góes, autor da
coletânea "Teatro nervoso", lançada ano passado e que reúne peças
curtas, as melhores de sua carreira, nascidas da observação de sua própria
realidade. "Eu falo sobre o que eu sei. Eu sou profundamente observador e,
durante minha vida inteira, observei a classe média. Aprendi a odiá-la e a
amá-la. Mas gosto de denunciá-la. Talvez seja o meu maior prazer". Nesta
entrevista a Shahid Luiz Carlos Góes fala sobre seus
textos, influências artísticas, teatro e, claro, literatura. "Eu preciso
da liberdade da literatura, da maturidade da literatura. Preciso falar sem
censura sobre as coisas que eu vejo e sinto."
Você acaba de
lançar o livro "Teatro nervoso", composto de 22 peças curtas. Como
esses textos foram escolhidos? E por que a ideia de reuni-los em livro?
Eu e Joaquim,
meu parceiro, escolhemos os textos que achamos melhores. A ideia de livro é
mais porque eu quero abrir esta janela para mim. E porque às vezes é mais
barato para o ator que está iniciando comprar um livro do que ter que pagar
para ver várias peças. Também porque, como são peças curtas, parecem contos. Eu
amo os livros.
Todos os
textos reunidos retratam uma situação-limite sendo enfrentada pelos
personagens. De onde veio sua inspiração para essas histórias?
A maior parte
da minha inspiração vem do ambiente em que eu fui criado e da classe à qual eu
pertenço. Na minha casa vivíamos sempre em clima de: "hoje eu vou mudar
minha vida!". Todos os dias, parecia que ia ter uma virada. E tinha!
Mudei muito de
casa, de colégio, tudo em busca da felicidade. Minha mãe, quando não aguentava
mais o contexto em que vivia, ou brigava com papai, não caía! Mudava de casa e
mudava a gente de colégio, tudo em busca de uma felicidade que ela não
encontrava. Ela dizia: "dessa vez vamos ser felizes!".
Além de
explorar essa situação-limite, suas peças focam também na classe média e suas
questões. Qual o motivo dessa escolha e o impacto dela nos seus textos?
Eu falo sobre
o que eu sei. Eu sou profundamente observador e, durante minha vida inteira,
observei a classe média. Aprendi a odiá-la e a amá-la. Mas gosto de
denunciá-la. Talvez seja o meu maior prazer.
Que outros dramaturgos
ou artistas inspiram a sua obra?
Nelson
Rodrigues, como não podia deixar de ser, e Tennessee Williams, porque ninguém
fala sobre o mistério da classe média melhor do que ele. Sempre temos algo que
não contamos, sempre mantemos algo na garganta que aconteceu há anos e a gente
não se esquece. E o rancor? E o rancor entre irmãos, entre mãe e filha, entre
pai e filho, entre empregada e patroa, entre a bela e a feia, entre o
inteligente e o não inteligente? Adoro Shakespeare, os gregos, principalmente Sófocles.
Molliére é muito gozado e fala das vaidades humanas como ninguém. Eu li muito.
Tudo me influenciou. E eu escuto muito. Aprendo.
Além da
dramaturgia, a literatura também vem lhe despertando o interesse nos últimos
tempos. Como encara o desafio de produzir um texto como escritor?
Escrever meu
primeiro livro abriu uma porta tão criativa para mim que eu já tenho um pronto
e acabei de fazer a sinopse de mais um. Eu preciso da liberdade da literatura.
Eu preciso da maturidade da literatura. Preciso falar sem censura sobre as
coisas que eu vejo e sinto. E começar do zero em outra especialidade é um
desafio que me fascina.
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