quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Da vivência à escrita de Adilson Xavier


Dosando as experiências que teve na publicidade, no direito e na própria literatura, Adilson Xavier lança às páginas de seu segundo romance, Sobrevoando Babel (Record), um olhar crítico e ao mesmo tempo sensível sobre a fragilidade das relações sustentadas pelas aparências do mundo moderno. Seu protagonista, um executivo de sucesso, é no fundo frustrado e sozinho. Nesta conversa à Shahid, Adilson compara Sobrevoando a seu livro anterior, fala sobre a importância da escrita em sua vida, de onde extrai a ‘matéria-prima’ de seus livros e do desejo de continuar se desafiando.

Como surgiu Sobrevoando Babel?
Surgiu da minha vontade de abordar o vazio existencial em que o mundo globalizado está se metendo, falar da superficialidade crônica da vida moderna, a partir dos "bem-sucedidos", dos que ostentam cargos importantes, realizam seus sonhos de consumo, ganham mais do que precisam e, ainda assim, seguem acumulando infelicidade. Mas também surgiu como um contraponto ao meu romance anterior, E. O Atirador de Ideias, onde o protagonista é humilde, vindo do interior para o Rio de Janeiro e, empenhado em seguir um conselho de seu pai para "ser alguém", encontra um sentido maior em sua vida. Os protagonistas dos dois livros são absolutamente opostos, mas complementares. O Douglas, de Sobrevoando Babel, era necessário para fechar o raciocínio iniciado com o José, do Atirador de Ideias.

E que relação há entre os dois livros?
A relação é forte, é mais ou menos como falar do convívio dos "alguéns" com os "ninguéns". Os "ninguéns" sonhando passar para o time dos "alguéns", por considerar que ali está a felicidade. E os "alguéns" ignorando solenemente a existência dos "ninguéns", sequer os enxergando, sentindo-se como os donos do mundo enquanto se perdem de si mesmos. O "alguém" de Sobrevoando Babel passa por cima dos "ninguéns" como o José do Atirador de Ideias. Eles não se comunicam, e no fundo de tudo o que eu escrevo o grande tema é sempre a comunicação, ou a falta dela.

Quanto dos seus livros vem da sua vivência na publicidade?
A matéria-prima da escrita é a vivência. E a publicidade proporciona uma riqueza de vivências muito grande. Um dia estamos estudando as donas de casa da classe C, outro dia estamos lançando um carro para os executivos da classe A, e assim por diante, o que acaba nos ensinando muito sobre o comportamento humano. Sem falar nos relacionamentos com clientes dos perfis mais distintos e com parceiros de trabalho, no Brasil e no exterior. Fora isso, as experiências vividas como advogado especializado em Direito de Família no início de minha vida profissional são fonte inesgotável de características para meus personagens.

Quando decidiu se tornar escritor? Que espaço a literatura ocupa em sua vida?
Foi por volta de 2004, quando decidi que tentaria colocar no papel minhas ideias sobre a extraordinária competência comunicativa de Jesus Cristo. Só tive certeza de que era capaz de escrever um livro quando coloquei o ponto final no Deus da Criação. Aquilo me deu uma alegria tão grande que não quis mais parar. A literatura coloca minha vida em perspectiva. Lendo, posso ampliar meu leque de vivências e aprender a me comunicar cada vez melhor. Escrevendo, posso esquadrinhar tudo o que me cerca, brincar com o imaginário e ganhar mais musculatura. Literatura é como ginástica, se não pratico, fico pesado, menos saudável.

Quais seus planos para o futuro?
Continuar me desafiando. Colocar mais ideias na rua, explorar mais possibilidades narrativas. É uma delícia a sensação de iniciante toda vez que começo a desenvolver um projeto. Quando lanço um livro, já tenho outro em processo de criação. Meus planos para o futuro? Criar futuros (risos).

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