terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Os mínimos versos de Nicolas Behr


É entre versos eróticos e poemas inspirados na cidade de Brasília que transita a arte de Nicolas Behr, defensor da poesia marginal, sem "terno e gravata" – e do meio ambiente, área à qual se dedica há quase 30 anos. O poeta de Cuiabá, que na década de 1970 distribuía de bar em bar livrinhos seus mimeografados, acaba de lançar Meio seio, livro de poemas eróticos – e minimalistas – editado pela Língua Geral. Nesta entrevista à Shahid, o poeta fala sobre leitores, escritores, paixões que inspiram seus versos, maturidade e internet, para ele "o mimeógrafo dos novos tempos".

Por que a ideia de escrever Meio seio?
Depois de ler O amor natural, do Drummond, fiquei com vontade de escrever uns poemas eróticos, mas fiquei na dúvida. Depois deste livro ainda seria possível escrever poesia erótica? Aí resolvi reunir alguns poemas, para um livro cujo título inicial seria A miséria do amor, mas felizmente mudei para Meio seio.

Além de poemas eróticos, sobre que outros assuntos escreve?
Escrevo bastante sobre a cidade de Brasília, uma verdadeira obsessão poética. Um tema inesgotável, esta cidade fantástica. Escrevo também sobre a minha infância em Mato Grosso, sendo que recentemente publiquei A lenda do menino lambari.

Qual o perfil do seu leitor? Trata-se de um público possível de definir?
Vamos tentar: meu público é jovem, classe média, intelectualizado. Muitos deles também escrevem.

O que este livro traz de novo em relação aos livrinhos mimeografados que você vendeu de mão em mão anos atrás?
A maturidade é inexorável. Mas permaneço fiel aos poemas curtos, e a grande diferença é a maior abrangência do livro, pois Meio seio está sendo distribuído nas livrarias, nacionalmente. Com os livros mimeografados os poemas chegavam até onde, fisicamente, o poeta poderia chegar.

Qual o valor da 'geração mimeógrafo'? O que falta nos poetas hoje?
Ah, a geração mimeógrafo tirou o terno e a gravata da poesia. Trouxe o poeta de volta pra rua. Era, pela primeira vez, poesia de jovem pra jovem. Oxigenou a poesia, aumentou seu público, desmistificou o poeta. Não sei o que falta aos poetas hoje. O de sempre: escrever melhor. Mas lamento dizer que não sei o que isso significa.

Aos 10 anos, seu sonho era ser geólogo. Quando e por que começou a escrever?
Comecei a escrever poesia porque Brasília entrou na minha vida, quando tinha 14, 15 anos. A poesia foi resultado do impacto, do conflito com esta cidade na época artificial, inóspita, agressiva. Pode parecer dramático (e é), mas a poesia me salvou.

Que dificuldades um poeta tem que encarar no Brasil de hoje? E na década de 1970, quando você publicou por conta própria seus livros?
A dificuldade maior continua a mesma, hoje e nos anos 1970: fazer o livro chegar ao leitor. É a parte mais trabalhosa. E poesia não vende mesmo, nem aqui nem em nenhum lugar do mundo. O curioso é que poesia é o gênero literário mais praticado, todo mundo na vida escreve pelo menos um poema, de amor, preferencialmente. Mas é o gênero menos vendido.

Em sua opinião, em que a internet ajuda e em que atrapalha o trabalho do escritor?
A internet ajuda muito. Uso bastante. O máximo que posso, mesmo não sendo desta geração do computador. Tenho minhas limitações. A internet, o blog de hoje, é o mimeógrafo dos novos tempos. Claro, atingindo um público muito maior. A internet é um meio. Vale o que está escrito. O excesso de poemas na internet é bom, pois a qualidade sai da quantidade. Poesia nunca é demais. E o filtro fica por conta do senhor tempo.

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