segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Entre a precisão e as entrelinhas

Lançado esta semana pela editora Record, "De gados e homens" é o quinto romance da escritora carioca Ana Paula Maia. Reconhecida pela firmeza e precisão de sua escrita, nesta obra – que se passa dois anos depois de "Carvão animal" – ela retoma o drama do personagem Edgar Wilson. "O livro se desenrola num matadouro de gado bovino numa região fictícia, mas que se parece com várias partes do Brasil", avalia Ana Paula. Nesta entrevista a Shahid ela fala sobre as mudanças por que passou seu protagonista, revela que guarda para si as entrelinhas do que escreve e deixa seus conselhos aos autores estreantes.


Em entrevista ao jornal Rascunho você disse que só escreve pela possibilidade de ir além. O que você alcança com a literatura?
Nas minhas primeiras incursões pela literatura, percebi claramente a possibilidade de ir além e é isso o que mais me mantém interessada na escrita literária. A cada livro, alcanço um novo registro dos assuntos que me interessam.

Seus livros trazem cenas fortes, um lado brutal do cotidiano, talvez desconhecido pela maioria. Esses temas, você os escolheu ou foram eles que escolheram você?
São temas atraentes para mim. Entender como cheguei até eles é impossível, mas isso nunca me importou. O que me interessa durante a escrita é a relação com os personagens e conhecer suas estórias. A literatura é um lugar íntimo e particular que, por fim, compartilho com os outros. Mas as entrelinhas, eu não compartilho. Há muito na minha escrita que não compartilho, que mantenho para mim, mesmo que você acredite que entendeu tudo.

Você disse certa vez que seu interesse literário é por um tipo especial de violência, aquela gerada por profissões mais brutas, de quem tem que fazer o trabalho sujo. "De gados e homens" também segue esta linha?
Novamente repito: é impossível saber de onde vem esse interesse específico. Eu apenas me interesso pelo assunto. "De gados e homens" também segue esta linha – aliás, meus últimos livros seguem.

O que "De gados e homens" traz de novo em relação a livros mais recentes? Ele também será parte de uma série?
Este livro não pertence a uma trilogia, porém segue a linha narrativa dos outros. Mas, ainda assim, é diferente em termos de trama. Pela primeira vez existe um mistério, um elemento sobrenatural no livro. Pela primeira vez o Edgar Wilson, protagonista deste livro e também do romance "Entre rinhas de cachorros e porcos abatidos", tem o caráter mais revelado, já que neste momento tudo é fundamental para ele se tornar o Edgar Wilson que se tornou com o passar dos anos. Lembrando que em "De gados e homens" o Edgar tem vinte e poucos anos.

Você começou a escrever na internet, publicando a história do "Entre rinhas..." num blog. Que espaço têm as mídias sociais na sua carreira? Que conselho daria aos autores que estão começando?
Comecei minha carreira com a publicação do romance "O habitante das falhas subterrâneas", em 2003, pela editora 7 Letras. A partir daí, iniciei minha jornada na literatura, vindo a participar, por exemplo, da antologia de contos "As 25 mulheres que estão fazendo a nova literatura brasileira". A internet veio em 2006, com a publicação de "Entre rinhas...", depois de ele ter sido publicado parcialmente na Itália um ano antes, numa coletânea de contos pela editora Mondadori.
Atualmente utilizo as redes sociais para manter o contato com leitores interessados e divulgar meus trabalhos. Aos novos autores digo, independentemente do meio de veiculação dos seus textos, que façam a diferença com sua escrita, que se esforcem diariamente, pois a jornada é árdua.

Leia o primeiro capítulo de seu romance, publicado no jornal Rascunho:
http://rascunho.gazetadopovo.com.br/de-gados-e-homens/

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