quarta-feira, 27 de novembro de 2013

O humor preciso de Juan Pablo Villalobos


Já pensando no terceiro volume da trilogia sobre a história recente do México, que será narrado durante a velhice do protagonista, Juan Pablo Villalobos celebra o sucesso de "Se vivêssemos em um lugar normal" (Companhia das Letras), recém-lançado no Brasil e já traduzido para outros sete idiomas. Irreverência e humor ácido dão o tom à história do adolescente Orestes, que narra sua vida pacata na cidade de Lagos de Moreno enquanto reflete sobre as desigualdades do país e o papel insignificante que sua família ocupa no mundo.

Nesta entrevista, o autor mexicano compartilha as estratégias narrativas com que pautou seus dois primeiros romances ("Se vivêssemos..." e "Festa no Covil"), avalia as semelhanças entre Brasil e México e reflete sobre sua estreia na literatura aos 37 anos: "Para mim, chegar ao primeiro livro foi um processo muito longo".

Enquanto o narrador de "Festa no covil" era uma criança, quem narra "Se vivêssemos..." é um adolescente. Qual o desafio de assumir essas vozes? Quais foram, se houve, suas inspirações literárias para isso?
"Festa no covil" foi um desafio de "limitação": o que pode e não pode dizer Tochtli, o menino narrador do romance. O desafio era encontrar as estratégias narrativas para poder contar a história, porque essa história era impossível de contar sem uma visão adulta: é por isso que Tochtli sempre está repetindo o que os adultos falam, que ele os espia, do contrário o romance ficaria incompleto. Quanto a "Se vivêssemos em um lugar normal", o desafio era construir uma voz narrativa que fosse adulta intelectualmente, mas adolescente sentimentalmente.

Quando começou a escrever "Festa no covil", já tinha as histórias dos dois livros em mente, ou mesmo o projeto da trilogia? Como nasceu este segundo romance?
A ideia da trilogia só surgiu quando terminei o segundo romance e percebi que os dois, e o projeto do terceiro, tinham algumas coisas em comum: um tom narrativo humorístico e a estratégia de narrar as questões sociais, econômicas e políticas do México desde a perspectiva de uma família. Além disso, eles se situam em três diferentes fases da vida: infância, adolescência e velhice (o terceiro, que estou escrevendo agora).

Você disse em seu blog que a versão definitiva do "Se vivêssemos..." foi escrita no Brasil, e que a realidade mexicana é um pouco brasileira. No que essas realidades se parecem?
Em que o grande problema dos dois países é a desigualdade, o abismo que existe entre ricos e pobres.

Qual a repercussão do seu livro entre os leitores mexicanos?
Em geral, o livro teve uma boa recepção entre a crítica. No caso de "Se vivêssemos em um lugar normal", que é um livro no qual a política mexicana ocupa um lugar muito importante, fiquei muito feliz com os comentários positivos de alguns jornalistas, apresentadores de noticiário, comentaristas políticos, etc., pessoas muito bem informadas do que acontece no país.

"Festa no covil" foi traduzido para 15 idiomas. A que atribui tamanho sucesso?
Para o autor é complicado falar dos motivos do sucesso ou fracasso do próprio trabalho. O autor deixa de ter o controle do livro quando publica, e muitas questões extra-literárias podem condicionar o resultado do livro. Eu acredito que o autor tem que se acostumar com isso e não ligar muito, do contrário o processo de escrita fica "contaminado". Felizmente, "Se vivêssemos em um lugar normal" está indo pelo mesmo caminho da "Festa no covil", até hoje está sendo traduzido a oito idiomas.

Sua carreira de escritor é relativamente recente. Como e quando começou a se dedicar à literatura?
Eu comecei a escrever com 14, 15 anos. Publiquei tarde, isso é verdade: "Festa no covil" saiu em 2010 em espanhol, quando eu tinha 37 anos. Fiz o grado em literatura espanhola, faço um doutorado em teoria literária, nunca parei de escrever durante os mais de 20 anos que passaram entre a adolescência e a publicação da "Festa no covil". Para mim, chegar a esse primeiro livro foi um processo muito longo.

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