sexta-feira, 10 de maio de 2013

Entre a ação e o suspense

Luis Eduardo Matta começou a escrever aos 17 anos, depois que viu uma entrevista com Jorge Amado na TV. Não parou mais. Hoje tem 11 livros publicados, para adultos e jovens (muitos adotados em escolas), do gênero thriller – relativamente recente na nossa ficção, como ele mesmo explica, e que mistura suspense e ação. Suas influências literárias também são variadas – de Agatha Christie a Borges, de Barbara Cartland a Dostoievski. Prestes a lançar A outra face do desejo pela Primavera Editorial – o lançamento será nesta terça-feira, dia 7 –, Matta conversou com a Shahid sobre o gênero policial de seus livros, o processo de construção de suas narrativas e a responsabilidade (e o prazer) de escrever para jovens.

Em seu site você diz que se especializou em tramas de mistério e suspense fora da estrutura clássica da ficção policial. Qual seria esse padrão clássico e que elementos você traz de novo?
O que se convencionou chamar de ficção policial clássica é a história de mistério onde um dos personagens desempenha o papel de detetive/investigador e o enigma a ser desvendado funciona como fio condutor da trama. Meus livros não seguem muito essa linha investigativa. São histórias mais complexas do ponto de vista narrativo nas quais não só o mistério, mas também o suspense e a ação desempenham papel importante. Esses livros são mais conhecidos como thrillers, embora muita gente discorde dessa designação, por se tratar de um estrangeirismo. Mas o fato é que não existe na língua portuguesa um termo que traduza exatamente o significado de thriller. Talvez até por esse gênero ser relativamente recente na nossa ficção.

A outra face do desejo, lançado nesta terça-feira pela Primavera Editorial, mistura história de amor, paixão, vingança e crime. De onde veio a ideia para essa trama específica?
Foi em meados de 2006. Um amigo que trabalhava numa grande editora comentou que eles estavam interessados em publicar um romance brasileiro na linha dos livros de Nora Roberts e Barbara Delinsky, duas autoras americanas de ficção romântica, e me sugeriu que eu fizesse isso. Achei a proposta atraente e logo comecei a escrever a história. Até que lá pela página 15 ou 20 tive a ideia de matar um personagem e percebi que não resistiria a adicionar um clima de mistério e suspense à trama. Daí tive que reformular o projeto e reescrevi o que já estava pronto, mantendo a temática romântica, mas transformando a empreitada num thriller.

Como autor de policiais, que tipos de conhecimentos você precisa buscar para escrever? Além do processo de criação, seu trabalho inclui pesquisas?
Inclui, porque eu não me inspiro na minha vida ou na minha maneira de enxergar o mundo para escrever. Procuro sempre criar uma galeria de personagens diferentes uns dos outros e que não tenham nada a ver comigo, além de reproduzir cenários e tratar de assuntos que não fazem parte do meu cotidiano. Então preciso pesquisar bastante para que a trama faça sentido e soe verossímil. É uma pesquisa por um lado teórica e, por outro, feita dia após dia por meio do convívio humano e da observação do que se passa à minha volta.

Além de ficção policial, você escreve thrillers infantojuvenis, como O diário perdido de Pernambuco, lançado ano passado. O que é necessário ter em mente para escrever para esta faixa-etária?
Acho que, fundamentalmente, é preciso respeitar a inteligência dos jovens leitores e criar tramas que os surpreendam, que não sejam condescendentes com o estereótipo do adolescente, o que é horrível. Tenho horror a estereótipos. Ao começar a escrever ficção juvenil, minha ideia foi passar para os jovens de hoje a mesma experiência positiva que eu tive na minha iniciação como leitor, durante a adolescência. Fico feliz por isso estar funcionando.

Vários de seus livros juvenis são adotados em sala de aula. Que cuidados essa responsabilidade passa a exigir do escritor?
Meu processo de escrita é o mesmo para os livros juvenis e os adultos. As pesquisas são igualmente rigorosas. A responsabilidade é grande, porque é na adolescência que a maioria das pessoas faz a opção ou não pela leitura. As visitas escolares, que faço com frequência, são uma possibilidade de conversar com a garotada sobre questões como o prazer da leitura e a desmistificação do objeto livro como algo restrito aos intelectuais. A boa notícia é que os adolescentes estão lendo cada vez mais.

Quando e como você começou a escrever? Que escritores considera referência para a literatura?

Comecei para valer em 1992 depois de assistir a uma entrevista de Jorge Amado e Zélia Gattai na televisão. Eu tinha 17 anos. A entrevista me deu fôlego e três meses depois terminei meu primeiro livro, Conexão Beirute-Teeran, que foi lançado no ano seguinte. Ainda hoje Jorge Amado é minha maior influência como escritor. Na literatura de mistério, esse papel coube a Agatha Christie. Mas minhas referências são variadas, pois leio de tudo: Dostoievski, Borges, Joseph Finder, Barbara Cartland... Alguns poderão considerar essa seleção errática e inconsistente, mas eu não vejo sentido em segregar a literatura dentro de rótulos incomunicáveis entre si. 

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