Jornalista há 31 anos, autora de livros de
não-ficção e peças de teatro, Maria Silvia Camargo lançou, há um mês, seu primeiro romance. Quando ia me esquecendo de você (7Letras, 2012) começou a tomar forma de
livro em 2008, quando a autora decidiu "parar para escrever" – e
voltou à PUC, onde se formou, para sua segunda graduação em Formação de Escritores. O resultado é a história de duas amigas de
infância que se reveem depois de anos graças aos diários que uma, então à beira
da morte, resolve deixar de herança à outra. Nesta conversa com a Shahid,
Maria Silvia fala sobre o curso que resultou no livro, diários, jornalismo,
criação e tempo para escrever.
Quando
ia me esquecendo é fruto do curso
de Formação de Escritores que você fez na PUC. Por que decidiu fazer o curso?
Ao escolher minha profissão, aos 19 anos,
sabia que viveria de escrever. Mas julguei, acertadamente, que o jornalismo me
daria maiores possibilidade de emprego e maior expansão pessoal (era muito
tímida). Mesmo assim continuei querendo escrever ficção. Em 2008 retornei à PUC
para esta nova habilitação em Letras, criada há quatro anos, que é exatamente o
que precisava: oficinas práticas (conto, romance, crônica, ensaio, poesia,
etc.) e muita leitura, muita literatura.
Como se deu esse processo de escrita?
Quando entrei no curso, tinha uma página
do romance rascunhado e uns 20 contos/crônicas. Mostrei a página aos
professores que escolhi como orientadores (Paulo Henriques Britto e Pina Coco)
e eles me disseram que, se transformasse aquela ideia num romance, poderia ser
meu trabalho final. Só o leram e nos encontramos uma vez, quando Paulo disse que
eu deveria mudar o final. Mudei e entreguei, eles gostaram e me aconselharam a
publicar. A maior dificuldade foi lidar comigo mesma (driblando as demandas de
jornalismo e todo um ritmo de vida), sentar na cadeira e escrever.
O livro conta a história de duas amigas,
já adultas, que trocam diários desde a infância. No que se inspirou para
escrevê-la?
Escrevo diários desde os 12 anos.
Recentemente tive que jogar fora alguns, pois não tenho mais espaço para eles.
Foi então que pensei: "e se eu morrer, quem pode ler isto?". Fiz um
testamento, nomeando uma amiga (a quem dedico o livro) herdeira dos diários.
Daí me veio o mote para o livro: "e se duas amigas de infância, que não se
veem direito há dez anos, ficam sabendo uma da outra através de uma
herança?".
Você já publicou três livros de
não-ficção, além de textos teatrais. Como foi para você escrever seu primeiro
romance?
Livros são diferentes de teatro. Aliás,
um dos motivos que me fez tentar teatro foi não ficar tão solitária no
processo. Uma atriz que leu um livro meu de jornalismo (Mulher &
Trabalho – 32 Histórias, da Editora 34) foi quem me pediu que escrevesse
uma peça pra ela. Escrevi duas e foi coletivo, debatíamos, fazíamos leituras.
Continuo me sentindo solitária com os livros, mas eles são mais simples que
teatro, dependem quase que só de mim – pelo menos na feitura.
Pensa em dar continuidade à carreira de
escritora?
Sou escritora, faltava escrever! Meu
processo foi assim: depois de 21 anos de jornal queria meu tempo de volta.
Escrever é isto. É ter tempo. Ninguém faz literatura sem tempo, caso contrário
vai olhar para uma mesa e reproduzir: "mesa". Não há criação neste
processo. Mas, se puder gastar bastante tempo de bobeira olhando para as
coisas, quem sabe não tenho uma ideia boa?
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