quarta-feira, 26 de setembro de 2012

"A gorda" de Anatole Jelihovschi


Depois de dar voz a um ex-piloto da Segunda Guerra, em Aves Migratórias (Planetário, 2005), e vida a um serial killer no Rio de Janeiro do século XIX, em Rio Antigo (Rocco, 2009), o escritor Anatole Jelihovschi publica A gorda (Ímã Editorial). Neste que é o seu terceiro romance, um homem sozinho e recém-separado é convidado a passar o réveillon num restaurante comandando por uma encantadora e enigmática mulher gorda, que acumula as funções de caixa, garçonete e cozinheira. Sem nada melhor para fazer – e sem conseguir esquecê-la – ele aceita o convite e se vê enredado em uma trama onírica protagonizada por ela. Nesta conversa com a Shahid, Anatole revela de onde veio a inspiração para o romance, fala sobre os desafios que encontra na hora de escrever e como a literatura entrou em sua vida. Confira.

De onde veio a ideia para o romance A gorda?
Essa ideia surgiu há uns 20 anos. Meu irmão foi a uma comemoração de reveillon (ao contrário do personagem, ele foi com a família) e contou, no dia seguinte, a história da Gorda. Ela fazia tudo, era a dona, servia – sem esquecer o show imperdível que, ao fim da festa, ela fazia também. Achei aquilo engraçado e guardei. Quinze anos depois – quando morava em Miguel Pereira (havia me mudado para escrever) e já tinha escrito dois romances – eu me lembrei do episódio. A princípio seria um conto. Mas mais histórias começaram a aparecer e A gorda virou um romance (ou novela).

Antes dele, você publicou Aves Migratórias e Rio antigo, com temáticas bem diferentes. Quais os desafios e inspirações na hora de escrever cada um deles?
O maior desafio é na hora de começar. As ideias parecem poucas e a impressão é de que o romance vai desaparecer no meio do caminho. Mas aí novas ideias aparecem e incorporam o romance – algumas muito boas, que me entusiasmam. Evidentemente cada romance tem uma história diferente. Esses dois saíram de noites insones, sonhos misturados a horas de vigília e, de repente, a ideia estava implantada. Mas o mais importante é a vontade de escrever. Se não as ideias vêm e vão.

Quando e por que começou a escrever?
Eu não decidi me tornar escritor, alguma coisa dentro de mim decidiu por mim. O primeiro romance eu escrevi aos 10 anos de idade. O segundo (maior, mais elaborado) aos 13. Estava apaixonado pela minha professora de português e dei a história a ela. Daí em diante foi uma sucessão de romances. Mas o primeiro a ficar realmente bom foi escrito em 1998, e ainda não foi publicado. Até então alguma coisa me travava, não sei o quê, algumas partes do romance ficavam boas, mas o todo não. E, de repente, começou a sair.

E para o futuro, planeja algum projeto novo?
Na verdade tenho 11 livros inéditos, para serem publicados. Por enquanto estou focado nisso.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Toninho Vaz no XX Congresso de Poesia


O XX Congresso Brasileiro de Poesia acontece este ano em Bento Gonçalves (RS) entre os dias 24 e 29 de setembro. Na noite do dia 24, o autor Toninho Vazfala sobre A poesia rebelde de Leminski e Torquato Neto, seus biografados.

O paranaense Leminski e o piauiense Torquato, embora nascidos em pontos extremos do Brasil, conseguiram, nos anos 60, provocar impacto com palavras e atitudes rebeldes, inscrevendo seus nomes na lista de jovens pensadores inconformados, os chamados "autênticos".

"Eu sempre digo que as duas biografias compõem a minha microantologia biográfica de poetas malditos", brinca Vaz. "Além da verve rebelde, os dois nasceram no mesmo ano e em 2014 estariam completando setenta anos. Estou procurando uma boa editora para relançar as duas biografias, que estão esgotadas e disponíveis."

Durante a semana haverá uma tarde de autógrafos do livro Solar da Fossa, (Casa da Palavra/LeYa), sobre o casarão colonial no bairro carioca de Botafogo por onde passaram nomes como Caetano Veloso, Gal Costa, Paulinho da Viola e Tim Maia. Para saber mais detalhes sobre o evento – que homenageia nesta edição o poeta gaúcho Sérgio Napp – acesse http://poebras.blogspot.com.br/.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

"Por Parte de Pai" em cartaz no Rio de Janeiro


Por Parte de Pai, título homônimo do livro autobiográfico de Bartolomeu Campos de Queirós, estreou neste sábado e ficará em cartaz até o dia 6 de outubro no Teatro Maria Clara Machado, no Rio de Janeiro.

Encenado por Nathália Marçal, com direção de André Paes Leme, figurino e cenário de Ronaldo Fraga, trilha sonora de Pedro Veríssimo, luz de Renato Machado e produção de Tatyana Rubim, o monólogo resgata – poeticamente, entre descobertas e perdas – a infância de um menino ao lado do avô, no interior de Belo Horizonte.

"Tentamos ser fiéis ao livro e manter a sua fluidez. Eu não quis transformar a narrativa, busquei trabalhar com o traço natural do texto que favorece uma teatralidade épica", explicou o diretor André Paes Leme, que já montou ao menos 10 espetáculos a partir da literatura e foi o responsável pela adaptação da peça.

Bartolomeu Queirós, falecido em janeiro, era mineiro e teve mais de 45 obras publicadas. Ele fazia parte da Academia Mineira de Letras e recebeu diversos prêmios por seu trabalho, entre eles o Jabuti – maior condecoração literária do país –, o Ibero-americano SM de Literatura Infantil e Juvenil em 2008, o Chevalier de l'Ordre des Arts et des Lettres (França), a Medalha Rosa Branca (Cuba) e o Diploma de Honra da IBBY de Londres. Além disso, idealizou o Movimento por um Brasil Literário e trabalhou em projetos de incentivo à leitura patrocinados pela Biblioteca Nacional e pelo Governo de Minas Gerais. 

Serviço
Dias: Sexta a domingo
Horários: Sexta e sábado às 21h, domingo às 20h
Ingressos: 5,00 reais (inteira) e 2,50 reais (meia entrada)
Local: Teatro Maria Clara Machado (Planetário)
Endereço: Rua Padre Leonel França, 240, Gávea
Telefone: 2274-7722

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

O paraíso literário de Miriam Mambrini


Miriam Mambrini acaba de publicar seu quarto romance – e oitavo livro. Ninguém é feliz no paraíso (Ímã Editorial, 2012), que levou dez anos para ser concluído, mistura ficção com pitadas de realidade. É com ela, aliás, que Miriam rega cada uma de suas obras, como relembra nesta entrevista. Aqui a escritora – que tem textos premiados em diversos concursos, entre eles o Stanislaw Ponte Preta – fala sobre suas inspirações, obras preferidas e projetos futuros.

Ninguém é feliz no paraíso conta a história de Cássio, que se refugia numa praia paradisíaca para esquecer os problemas do mundo. De onde veio a ideia para este que é o seu quarto romance?
Ninguém é feliz no paraíso nasceu deste título, que uma mulher chamada Lúcia me deu. Gostei do título, pensei em escrever um conto. Como essa história, na minha cabeça, só podia se passar onde Lúcia morava, a praia de Manguinhos, em Búzios, que eu conhecia muito bem, pensei na praia e nas pessoas que lá moravam, cada uma com a sua história. Mas minha imaginação já tinha ido além e colocado nessa praia personagens que nunca estiveram lá, como a atriz de Hollywood aposentada e um certo argentino. Lembrei-me de uma família que se dizia dona daquela terra, da mulher com uma trança branca e um brinco só e de seu filho esquizofrênico, do Leleide, que no livro virou Tonho, buziano nato que, sem que se entendesse como, foi lambido por uma onda enquanto pescava. Gosto de mistérios, de enigmas. O crime, literariamente, me seduz. Então surgiram mortes misteriosas na Ponta do Criminoso. A história dessa praia não cabia num conto, só um romance podia retratá-la. Mas faltava um fio condutor: alguém que chegasse a essa praia com uma carga de sofrimento, pois, se Velas, nome que dei à praia, era um paraíso, Lúcia dizia que ninguém é feliz no paraíso. Criei Cássio, atormentado pelo remorso, com seu rosto sombrio. Cássio foi conhecendo Velas e as dores de sua gente. Só depois que Lúcia morreu, uns três anos após me dar o título, é que de fato comecei a escrever o romance. De alguma maneira inexplicável, me senti compromissada com ela. No total foram mais de dez anos de trabalho.

Você se deixou inspirar por algumas experiências pessoais em Ninguém é feliz.... Isso aconteceu também nas outras obra?
Isso me acontece com frequência. Em As pedras não morrem, por exemplo, parti do fato de estar guardada na minha casa, em algum lugar, a máscara mortuária de minha avó. Eu fantasiava muito em torno dessa máscara, que nunca tive coragem de olhar, e dessa avó, morta em Dresden muito antes de eu nascer. Me coloquei na pele de Irene, a protagonista, para viver com uma intensidade doentia minha obsessão, leve na vida real, pela avó. Em O crime mais cruel, parti da experiência de acompanhar de perto a angústia de uma família que tem um de seus filhos sequestrado. Na ficção, o sequestrado era uma criança e a família se estruturava de forma totalmente diferente da que viveu o sequestro na vida real. Criei um tio, Próspero, que narra o passado da família e ensaia escrever um romance policial. Assim, temos duas histórias que se entrelaçam: o sequestro real (na ficção, naturalmente) e o sequestro inventado pelo nada próspero Próspero, aprendiz de romancista. O livro mais pessoal de todos os que já escrevi foi Maria Quitéria, 32. Ali estão crônicas que contam em primeira pessoa episódios da minha infância em Ipanema nos anos quarenta/ cinquenta. Hesitei muito em publicar esse livro, por ser autobiográfico. Resolvi fazer uma edição pequena, destinada apenas a meus amigos, mas a menina de Ipanema fez muito mais sucesso do que eu esperava e, atendendo ao meu editor Elio Demier, resolvi colocar alguns livros apenas nas livrarias de meu bairro.

Além dos romances, você publicou três livros de contos e um de crônicas. O que muda na hora de escrever cada um dos gêneros?
O conto, breve, centrado numa única ou poucas ações e personagens, pede uma concentração de recursos, enquanto o romance exige uma acumulação, um desenvolvimento lento. Sou fã do conto, que se aproxima até certo ponto da poesia, que me parece o gênero literário mais expressivo. Infelizmente não sou poeta, mas o conto permite, pelo menos no que me diz respeito, mais liberdade para voar pela metáfora e a linguagem figurada do que o romance. No conto, é raro eu aproveitar experiências de minha vida pessoal, uso mais a imaginação. Nesse território versátil, tanto posso matar mendigos, como ser prostituta. Aí, tenho ciúmes, me vingo e, com muita frequência sou homem. Uso o humor, de forma mais deliberada, e ensaio pequenos passos na área do fantástico. Passei a escrever romances porque alguns textos começaram a crescer demais, havia muito a dizer, muito a esmiuçar, de modo que eles não caberiam num conto. Nos meus dois primeiros livros, O baile das feias e Grandes Peixes vorazes, incluí textos vencedores em vários concursos, como os de Paranavaí, (PR), Ourinhos (SP), São Bernardo do Campo (SP), Niterói e Rio de Janeiro (o então muito prestigiado concurso Stanislaw Ponte Preta).

É possível destacar, entre tantas obras, a mais especial para você? Por quê?
É difícil para a mãe dizer de que filho gosta mais. Todos têm importância, por uma razão ou por outra. No momento, acho Vícios ocultos mais especial por se tratar de um filho injustiçado, pouco divulgado, que não teve chance de mostrar o seu valor. Cada um dos meus outros livros viveu seu pequeno momento de glória. As pedras não morrem e O crime mais cruel, por exemplo, foram vendidos para o PNBE. Muita gente se identificou com Maria Quitéria 32Ninguém é feliz no paraísoestá tendo boa repercussão. Vícios Ocultos ainda precisa de mim e só por isso é mais especial.

E para o futuro, tem algum novo projeto em mente?
Para um futuro próximo, tenho dois. Participar do livro Mapas de viagem, junto com meu grupo Estilingues, composto por sete escritores, juntos há quase 25 anos, num projeto que começou em 2010 com a publicação de Amores vagos. O projeto prevê a produção e distribuição gratuita de livros de contos, que, uma vez lidos, devem ser passados adiante. O objetivo é estimular a leitura da boa ficção brasileira. O segundo projeto é concluir o romance ainda sem título em que venho trabalhando nos últimos tempos.