terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Vida, arte e luta


Na lista dos mais vendidos desde que foi lançado, o livro Giane - Vida, arte e luta (Sextante) – biografia de Reinaldo Gianecchini contada pelo jornalista e escritor Guilherme Fiuza – faz um retrato da vida do ator, da infância no interior ao reconhecimento e à fama, expondo com delicadeza a doença que enfrentou. Nesta entrevista feita pela Sextante, Giane relembra suas histórias e fala sobre os bastidores do processo que resultou no livro.

Você tem apenas 40 anos e sua vida já dá, por assim dizer, um romance, uma novela – uma biografia, enfim –, com os muitos lances de aventura que você viveu, o mergulho na vida. De onde surgiu a vontade de escrever essa história?
O motivo se chama Guilherme Fiuza, o autor do livro. Eu sou muito fã do Guilherme como jornalista, tinha certeza de que ele faria um trabalho magnífico, fiquei curioso para saber como ele contaria a minha história. E, de fato, não me decepcionei. Eu acho o livro brilhante do ponto de vista da narrativa. Ele conta a minha história como se fosse um filme, com dramaturgia; e você acompanha cada passo, curtindo de uma forma muito saborosa, com imagens bonitas e fortes.

Você ainda tem a gana de morar no exterior, tantas vezes relatada no livro?
Tenho. Sinto que ainda vou fazer – há alguns lugares no mundo onde eu sinto que tenho de morar, ao menos por uma temporada. Eu sou cidadão do mundo. Tenho que estar sempre em movimento. A minha base vai continuar sendo o Brasil, porque hoje em dia é onde eu quero que meu trabalho esteja centrado, mas gostaria de ter o prazer de morar em alguns lugares como Londres e Nova York. E mais alguns.

Pelo livro, você já fez muita coisa nessa vida. O que está faltando?
Está faltando muita coisa de trabalho – por exemplo, não fiz o cinema que eu gostaria de ter feito. Eu me orgulho das várias participações, mais ainda não fiz O filme, interpretando um personagem que pudesse ser um mergulho muito profundo. E também a minha instituição para cuidar de crianças, adolescentes e idosos no interior de São Paulo, em Birigui. Esse sonho está prestes a se realizar, mas não sossego enquanto não estiver a mil por hora, ajudando muita gente.

Como foi o processo de entrevistas com Fiuza? Ele conta que chegou a gravar sete horas seguidas com você, e que nunca fizera isso antes...
Foram várias sessões de conversa que pareciam mais terapia do que outra coisa! Fui passando e repassando minha vida a ele, lembrando vários detalhes, cenas que eu já não recordava, sentindo cheiros que vinham lá do passado e que eu tinha esquecido... Foi muito especial, um trabalho de muita confiança. Foi um mês de entrevistas e muito prazeroso. Tinha horas que eu me esquecia de beber água, ir ao banheiro, a gente emendava num papo que era muito bom.

Quais foram os momentos mais delicados de lembrar ao longo do processo de elaboração?
A parte da doença. Eu não tenho nenhum problema de falar dela, mas acabei de sair do processo, e estou muito feliz, com muita vontade de falar de coisas novas. Voltar à doença e reviver tudo aquilo foi talvez a parte menos agradável, mas muito necessária. O resto foi tão divertido de relembrar! Foi muito interessante toda a articulação.

Seu jeito de bom moço e o temperamento gentil são unanimidade nacional. Além disso, você prima pela discrição. Mas o livro expõe alguns momentos de fúria, destempero e angústia profunda. Algum desses momentos te causou tensão ao ser revelado?
Não. A ideia do livro era NÃO me pintar como super-homem, um ser acima do bem e do mal. A ideia era essa mesma: mostrar os meus defeitos, as minhas limitações, meus momentos de fraqueza, irritação. Eu acho divertido mostrar que tudo faz parte do que se é. No começo, fiquei meio aflito com a exposição de outras pessoas no livro. Mas logo relaxei – vi como o livro trata com delicadeza e elegância todos que participam dele. E conta a minha história sem entrar em detalhes que não são de nenhuma importância ou que não devem ser divulgados, não devassa a intimidade da minha ex-mulher ou de amigos. E eu tinha essa prerrogativa – se eu não concordasse, poderia pedir para tirar. Mas eu concordei com tudo e acho que tudo o que ele escreveu é relevante e necessário. E não ficou faltando nada.

Qual é sua sensação ao terminar de ler a própria história?
Eu comecei aflito e terminei absolutamente contente de ver uma história tão bem contada. Foi muito bem retratada – quase com poesia, em vários capítulos. Um exemplo é o retrato do fim do meu casamento, Fiuza retratou direitinho como foi. O livro é perfeito mostrando que a gente tem que estar sempre tomando as decisões que levam a algum lugar. E essas decisões têm consequências, todas elas. Essa foi a minha vida: a criança de Birigui, depois saindo de lá, enfrentando a cidade grande e morando fora do país, tomando decisões de seguir o seu destino. Fiquei orgulhoso de ter a minha história contada tão bem. E fiquei até surpreso: achei a minha vida bem interessante!

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

No ritmo do samba


Anos de pesquisas sobre o universo do samba, conversas com a velha guarda da Portela, um pulo no Recôncavo Baiano para ver de perto o samba de roda. Desse passeio popular – inspirado por sua "cabrocha", como brinca o autor – nasceu o livro Histórias do samba – de João da Baiana a Zeca Pagodinho (Matrix), que o pesquisador e escritor Marcos Alvito acaba de lançar. Saído do forno às vésperas do carnaval, o livro reúne cem histórias curiosas sobre este que é o gênero musical mais querido do Brasil. Em conversa com a Shahid, Marcos fala sobre o prazer – e a responsabilidade – de popularizar um tema que estuda desde 1998, relembra um e outro "causo" e promete um segundo volume de histórias. "Tudo sem pressa, no ritmo do samba", adianta.


Histórias do samba conta cem histórias no mínimo curiosas sobre esse gênero musical. Como nasceu a ideia de reuni-las em livro?
Eu sou professor na UFF e, há mais de dez anos, utilizo o samba como fonte histórica em sala de aula. Mas faltava um impulso que me levasse a escrever as histórias. Totalmente apaixonado por uma cabrocha, que é professora de Literatura, comecei a escrever uma história por dia e a enviar os textos a ela. Depois começamos a namorar e eu continuei lhe mandando as histórias, que ela comentava, sugeria mudanças... Posso dizer que o livro nasceu de dois grandes amores: pelo samba e pela cabrocha Licia Paranhos.

Como foi o trabalho de resgate dessas histórias?
Eu fui pesquisando ao longo de mais de dez anos, enquanto preparava cursos, escrevia artigos e fazia incursões no mundo do samba: conversas com a Velha Guarda da Portela, rodas de samba por toda a cidade, uma ida ao Recôncavo Baiano para conhecer o samba de roda. Tudo sem pressa, no ritmo do samba.

Que nomes do samba figuram nesses "causos"?
Há sambistas "clássicos" como Noel, Nelson Cavaquinho, Cartola. E há também histórias de compositores fundamentais, com músicas muito conhecidas e importantes, mas que ainda são desconhecidos do grande público. É o caso de Romildo, que compôs, junto com Toninho Nascimento, o famoso "Contos de Areia", que levou Clara Nunes ao topo da parada de sucessos. É aquela que começa "É água no mar...". Aliás, tem uma história gozada sobre isso, que eu não conto no livro mas conto agora: a letra original dizia "É lua no mar...". Mas Romildo, na hora de gravar a fita para mandar para Clara Nunes, sempre errava, dizendo "É água no mar...". Depois de várias tentativas, o parceiro desistiu: "Manda esse negócio assim mesmo". E foi um sucesso nacional.

É possível destacar, entre tantas, a história mais inusitada?
Há muitas. Mas tem uma que eu adoro. Às vésperas do carnaval de 1912, morre o Barão do Rio Branco, um político importantíssimo, figura de destaque na monarquia e também na república. O governo resolve suspender o carnaval, prometendo realizá-lo em abril. Avisa aos jornais, convoca os cordões e todo mundo diz estar de acordo. Mas na sexta-feira o povo não quer nem saber, faz o maior carnaval. E pula de novo em abril, conforme combinado. Foi o único carnaval com bis da história.

Você estuda o samba desde 1998. Como foi trazer ao público, de forma tão leve, curiosidades sobre um tema com o qual costuma lidar como pesquisador?
Foi um prazer imenso. Mas também uma responsabilidade: há que ter um compromisso em não trair a tradição do samba e dos seus valores. Por trás da informalidade, há uma filosofia e uma ética.

Qual o valor da cultura do samba para a nossa sociedade?
O samba é como o rio Amazonas, cuja grandeza se deve também a seus afluentes. Acabaram por desaguar nele muitas outras formas musicais como o lundu, o calango, o jongo. Ele foi fruto de uma longa tradição afro-brasileira e ao mesmo tempo sofreu mudanças que permitiram a esta tradição dialogar com novos desafios.

Em entrevista ao jornal O Globo, você diz que planeja um segundo volume de histórias do samba. Podemos esperar?
O segundo volume virá naturalmente, porque há um mar de histórias sobre o samba e seria uma injustiça contar somente cem. Vou escrevendo as histórias no mesmo ritmo do primeiro volume, uma por dia, para poder saborear. O samba nos ensina que devagar também é pressa e que às vezes a lentidão proporciona mais prazer.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Sexo, Champanhe e Tchau


O que é o amor? Como amar de verdade em tempos virtuais? Qual a diferença entre obsessão e paixão? É possível separar amor e sexo? O que fazer depois que o romance acaba?

Sexo, Champanhe e Tchau, escrita por Mônica Montone e dirigida por Juliana Betti, fala sobre o que não é o amor. Trata da estranheza provocada por certas relações que nos colocam frente a frente com nossos medos e obsessões. O texto, poético e sensível, também relata as dificuldades de lidar com a passagem do tempo e a adaptação à vida adulta.

Durante os cinquenta minutos da peça, a personagem Jezebel tenta entender essas questões, num diálogo intenso e bem humorado com Ela. A montagem, simples e funcional, busca valorizar o gesto e a palavra. Para isso as atrizes Ana Cecília Mamede e Mônica Montone (respectivamente nos papéis de Jezebel eEla) utilizam apenas duas cadeiras, que ganham novas funções com o desenrolar da história.

Antes desta montagem, a peça participou do ciclo de leituras dramatizadas das unidades do SESC-RJ e acabou virando livro, publicado pela editora Oito e meio. "Mônica Montone nunca perde o senso crítico e o tom do humor, mas deixa se levar também pelo romantismo de sua veia poética", avalia Paulo Betti, que assina a orelha da obra.

Local: SESC Casa da Gávea 
Data: 11 de janeiro a 24 de fevereiro 
Horário: Sextas e sábados, às 21 h. Domingos, às 20h 
Endereço: Praça Santos Dummont, 116, Gávea 
Telefone: (21) 2239-3511 
Ingresso: R$ 40 (estudantes e associados pagam meia)