Traduzindo Hannah, lançado em quatro países da Europa, é seu segundo romance –
mas o bastante para consagrar Ronaldo Wrobel ao lado dos grandes nomes da
literatura brasileira. É nesta condição que ele integra a comitiva de nove
escritores que viaja este mês à Alemanha para, numa espécie de missão pré-Frankfurt,
apresentar ao país nossa literatura. Nesta entrevista a Shahid, antes de
embarcar, no dia 12, Wrobel falou sobre a viagem, o começo da carreira,
influências que o inspiram – entre elas o judaísmo – e a repercussão de Traduzindo Hannah. "Parece
óbvio, mas são os leitores que têm promovido o livro tanto aqui quanto lá
fora", diz.
Traduzindo
Hannah (Record)
é um romance de temática judaica, recheado de ensinamentos e reflexões sobre a
vida. Qual a origem desse repertório? Sua própria vivência, outros livros...?
O judaísmo vem
se transmitindo através de boas histórias há alguns milênios. Trata-se de um
povo e de uma cultura que combinam perfeitamente com literatura, teatro e
cinema. Enquanto escrevia Traduzindo
Hannah, conversei com gente que viveu a Era Vargas e li ótimos livros, como
as memórias do advogado Samuel Malamud sobre a comunidade judaica da Praça
Onze. Mas a maior inspiração para o romance veio de avós, tios-avós e primos
chegados do Leste Europeu nos anos 20 e 30. São as matriarcas e os patriarcas do
meu espírito judaico.
E de onde você
tirou a ideia da busca aflita de Max Kutner por Hannah – e, com o passar da
história, por si mesmo? Melhor: que questões o motivam a escrever?
Sempre gostei
de personagens que enfrentam transformações essenciais no curso da história. Um
romance que aborda esse processo e me impressionou muito na juventude é O Fio da Navalha, de Somerset
Maughan. Em cinema, admiro O
Show de Truman, sem falar nos filmes de Woody Allen. Não vejo graça em
histórias sem riqueza psicológica. De que adianta o personagem cruzar mares e
desertos se isso não for capaz de mudá-lo?
Quando e por
que decidiu se tornar escritor?
Nunca decidi
me tornar escritor. Eu já escrevia quando criança, sem saber se aquilo me fazia
ou faria escritor. Assumi que era escritor lá pelos 25 anos, quando resolvi pôr
no papel um romance chamado Propósitos do
acaso (Nova Fronteira),
que amarelava na minha imaginação. Terminar o romance e publicá-lo foi um
grande susto.
Propósitos
do acaso também remete à cultura judaica. Qual
a importância, para você, de explorar o tema?
Cresci ouvindo
histórias de avós, tios-avós e primos judeus que vieram da Europa Oriental para
o Brasil nos anos 20 e 30. Eram histórias fantásticas, com guerras, revoluções,
fugas, pobreza, separações - tudo contado de um viés judaico. Havia drama e
comédia e eles sempre se emocionavam, chorando e rindo ao mesmo tempo. Não
faltavam controvérsias e até discussões sobre o que realmente teria acontecido.
Depois, todo mundo ia comer. E comer bem!
Traduzindo
Hannah foi muito elogiado e agora começa a
alcançar o mundo (com lançamentos na Espanha, Itália, França e Alemanha).
Esperava essa repercussão? O que fez para consegui-la?
Sem entrar no
mérito do livro, atribuo essa repercussão inesperada à propaganda boca-a-boca.
Foi isso que levou o romance à segunda edição brasileira. No caso das edições
estrangeiras, duas delas foram influenciadas por brasileiros que moravam na
Europa ou conheciam europeus. Parece óbvio dizer isso, mas são os leitores que
têm promovido o livro tanto aqui quanto lá fora.
Você está
entre os nove brasileiros selecionados para divulgar nossa literatura na
Alemanha nesse período pré-Frankfurt. Quais as suas expectativas para a viagem?
Nunca estive
numa feira literária estrangeira e estou entusiasmado. É impressionante o
carinho com o qual escritores do exterior são recebidos em eventos como a Flip e Fliporto. A diferença é que não vou viajar
sozinho, em caráter privado. Somos nove escritores brasileiros numa viagem
precursora da Feira de Frankfurt e nossa agenda será voltada para a divulgação
da literatura nacional. Existe uma finalidade institucional que vai ser sempre
levada em consideração.