terça-feira, 12 de março de 2013

Teco e a vida real


Nada de brincadeiras ou fantasias. O universo do menino Teco – protagonista do "juvenil" Teco, o garoto que não fazia aniversário (Editora Barcarolla), escrito a quatro mãos por Marcelo Mirisola e Furio Lonza, e ilustrado por André Berger – retrata mesmo é a realidade – e a sua face mais dura. Ao tentar escapar da festa do seu aniversário de nove anos, Teco conhece o palhaço Cachacinha – sua porta de entrada à vida nas ruas, regada a álcool, drogas e pancadas. Famoso por sua irreverência como escritor, Mirisola fala nesta entrevista sobre a pertinência do livro – do qual espera desdobramentos –, critica a vaidade do "meio" literário e lamenta a dificuldade de comunicar suas histórias a um público mais amplo.

Seu livro mais recente, Teco, o garoto que não fazia aniversário, tem como protagonista um garoto de nove anos, ao mesmo tempo que trata de questões do universo adulto, como drogas e alcoolismo. Pensando em que público este livro foi escrito?

Basta dar uma volta pela Praça da Sé pra perceber que droga e alcoolismo não são problemas restritos ao mundo adulto. Se você fizer a mesma coisa na rua Oscar Freire vai perceber que droga e alcoolismo não distinguem faixa etária, tampouco classe social. Pensamos, eu e o Furio Lonza, co-autor do livro, no público inteligente. Talvez seja esse o grande defeito do livro.

De onde veio a ideia da história e dos personagens?
Tudo começou com o nome dos palhaços. Primeiro, veio o Cachacinha, que é uma brincadeira com um amigo biriteiro que faz (ou fazia) shows para crianças. Aí eu inventei o Alambique. A partir daí a história criou corpo, deslanchou e promete desdobramentos. Vamos ver.

Você é considerado um escritor irreverente e polêmico. Essa marca atrapalha ou estimula seu trabalho?
O problema é que ser irreverente no Brasil de 2013 é diferente de ser irreverente na Inglaterra do final do século 19. Aqui e agora, Kléber Bambam é o que temos de mais parecido com Oscar Wilde, G.K Chesterton e Shaw... Fica difícil.

O que move suas escolhas, de tema e linguagem, como escritor? Acha que falta irreverência na literatura produzida hoje?
Não adianta nada ter repertório, ou linguagem, como você diz, se não há correspondência por parte de um grande número de leitores. Meu leitorado é restrito e, vá lá, iluminado, mas não paga minhas contas. Por outra via, meus pares que podiam facilitar as coisas pro meu lado, e me arrumar uns prêmios em dinheiro, viagens e diversão, me ignoram solenemente. O que conta nesse "meio" é vaidade e tapete puxado. Azar o meu, azar o deles. Daí que eu não me movo, apenas chafurdo. Estou de mãos atadas, e continuo publicando um livro melhor que o outro. Acho que sou masoquista.

Quais são as suas referências na literatura?
Dona Marietta, maior referência literária da segunda metade do século 20, e do primeiro decênio deste novo milênio. Ela que me sustenta.

Se tivesse que destacar um livro seu, entre os mais de dez que publicou, qual escolheria?
Joana a contragosto, publicado pela Record em 2005.

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