Nada de
brincadeiras ou fantasias. O universo do menino Teco – protagonista do
"juvenil" Teco, o garoto
que não fazia aniversário (Editora
Barcarolla), escrito a
quatro mãos por Marcelo Mirisola e Furio Lonza, e ilustrado
por André Berger – retrata mesmo
é a realidade – e a sua face mais dura. Ao tentar escapar da festa do seu
aniversário de nove anos, Teco conhece o palhaço Cachacinha – sua porta de
entrada à vida nas ruas, regada a álcool, drogas e pancadas. Famoso por sua
irreverência como escritor, Mirisola fala nesta entrevista sobre a pertinência
do livro – do qual espera desdobramentos –, critica a vaidade do
"meio" literário e lamenta a dificuldade de comunicar suas histórias
a um público mais amplo.
Seu livro mais
recente, Teco, o garoto que não fazia aniversário, tem como
protagonista um garoto de nove anos, ao mesmo tempo que trata de questões do
universo adulto, como drogas e alcoolismo. Pensando em que público este livro
foi escrito?
Basta dar uma
volta pela Praça da Sé pra perceber que droga e alcoolismo não são problemas
restritos ao mundo adulto. Se você fizer a mesma coisa na rua Oscar Freire vai
perceber que droga e alcoolismo não distinguem faixa etária, tampouco classe
social. Pensamos, eu e o Furio Lonza, co-autor do livro, no público
inteligente. Talvez seja esse o grande defeito do livro.
De onde veio a
ideia da história e dos personagens?
Tudo começou
com o nome dos palhaços. Primeiro, veio o Cachacinha, que é uma brincadeira com
um amigo biriteiro que faz (ou fazia) shows para crianças. Aí eu inventei o
Alambique. A partir daí a história criou corpo, deslanchou e promete
desdobramentos. Vamos ver.
Você é
considerado um escritor irreverente e polêmico. Essa marca atrapalha ou
estimula seu trabalho?
O problema é que ser irreverente no Brasil de 2013 é diferente
de ser irreverente na Inglaterra do final do século 19. Aqui e agora, Kléber
Bambam é o que temos de mais parecido com Oscar Wilde, G.K Chesterton e Shaw...
Fica difícil.
O que move
suas escolhas, de tema e linguagem, como escritor? Acha que falta irreverência
na literatura produzida hoje?
Não adianta
nada ter repertório, ou linguagem, como você diz, se não há correspondência por
parte de um grande número de leitores. Meu leitorado é restrito e, vá lá,
iluminado, mas não paga minhas contas. Por outra via, meus pares que podiam
facilitar as coisas pro meu lado, e me arrumar uns prêmios em dinheiro, viagens
e diversão, me ignoram solenemente. O que conta nesse "meio" é
vaidade e tapete puxado. Azar o meu, azar o deles. Daí que eu não me movo,
apenas chafurdo. Estou de mãos atadas, e continuo publicando um livro melhor
que o outro. Acho que sou masoquista.
Quais são as
suas referências na literatura?
Dona Marietta, maior referência literária da segunda metade do
século 20, e do primeiro decênio deste novo milênio. Ela que me sustenta.
Se tivesse que
destacar um livro seu, entre os mais de dez que publicou, qual escolheria?
Joana a contragosto, publicado pela Record em 2005.
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