Artista desde pequena, atriz de
musicais, admiradora – e, de algum modo, seguidora – de Clarice Lispector.
Assim é Luciana Bollina, jovem escritora com muitas histórias a contar. A
primeira delas a virar romance, Clarices,
é uma homenagem à escritora que lhe encorajou a dar asas à sua “escrita
profunda”. A história de amor entre a artista plástica Clarice e o poeta de rua
Gabriel aconteceu, parte dela, na vida real – e tomou forma de romance, de alma
jovem e escrita literária, neste que é o primeiro livro da autora. Nesta
entrevista a Shahid, Bollina fala sobre a sua literatura, criação, escritores
que a inspiram e adianta seus novos projetos – por enquanto, um livro de contos
e uma peça musical.
Você é atriz, bailarina e cantora. Quando se interessou
também pela literatura?
Sempre gostei de escrever e
inventar histórias para os meus irmãos mais novos. Mas eu escrevia mais em diários,
como quase toda menina. Desde muito nova, sempre estive apaixonada por alguém e
isso me levava a escrever e projetar sonhos no papel. Acontece que cresci e continuei
escrevendo, sobre tudo o que me fazia pensar. Era como um exercício para mim
mesma, bem auto-biográfico. E com a leitura, tive vontade de começar a contar
histórias também. Alguns autores são os culpados disso, porque me apaixonei por
eles.
Clarices conta, em
meio a conflitos e (des)encontros, a história de uma jovem em busca do amor e
do seu lugar no mundo. Como nasceu a história?
Essa história aconteceu comigo.
Não como no livro, mas foi inspirada num fato verídico. Eu estava saindo de uma
loja quando encontrei um poeta vendendo seus livrinhos artesanais. Achei-o
interessante e puro, não sei, e acabei comprando seu livro por cinco reais. No
livro, havia seu e-mail, e resolvi lhe escrever dizendo o que tinha achado da
obra. Ele me respondeu marcando um encontro. Acho que aquilo nunca tinha
acontecido com ele, com certeza nunca tinha acontecido comigo. Nos encontramos,
conversamos muito, mas nunca mais o vi. E criei milhões de histórias que
poderiam ter acontecido. Escrevi um conto por causa desse encontro e, depois de
anos, tive vontade de transformá-lo em romance. E essa história foi apenas o
estopim para que eu colocasse no papel muitos questionamentos que sempre me
acompanharam.
Como se deu o processo de escrita desse seu primeiro
romance? Você acha que a experiência com outras formas de arte a ajuda como
escritora?
Com certeza ajuda. Tanto é que
dentro do livro acontecem duas peças – uma das personagens é atriz, o mocinho é
escritor e a Clarice é artista plástica! Tentei colocar no livro um pouco da
minha realidade. É disso que sei falar, porque vivo. Mas hoje tenho muita
vontade de criar uma história totalmente diferente das coisas que eu vivo e
sinto. Por exemplo, a história de um assassino que é obcecado por matemática! Como
exercício, acho que seria maravilhoso. Mas acredito que nunca vou poder fugir
da minha experiência. É através dos meus olhos e do meu sentimento que crio.
Uma história inventada nunca é tão inventada assim.
O título do livro remete sutilmente à Clarice Lispector. Foi
proposital? Que relações há entre as histórias dela e a sua?
Esse título surgiu, na verdade,
porque coloquei o nome da minha heroína de Clarice. E não foi por acaso. Eu
comecei a dar asas à minha escrita profunda, como costumo chamar, por causa
dessa escritora. Quando li Clarice Lispector, assim como muitas mulheres,
fiquei paralisada, em êxtase e louca para colocar para fora tudo aquilo que
sentia. E só pela escrita achei que seria possível. Primeiro escrevi uma peça, chamada
Voo, que montei e representei. Era um
monólogo em que eu dizia coisas que estavam travadas na minha garganta. Que,
incentivada por Clarice, consegui disparar. Fiquei em cartaz durante dois meses
em São Paulo e depois fui para Curitiba. Mais tarde, tive vontade de montar um
blog e continuar dando asas a novos voos. Então, na verdade, o nome da minha
heroína – e o título do meu primeiro livro – é uma homenagem a essa grande
mulher que me encorajou a revirar e me mostrar como sou.
Que outros escritores a influenciam?
Eu adoro Hermann Hesse, Machado
de Assis, Virgínia Wolf. Agora estou lendo James Joice e ele está abrindo a
minha cabeça. Também tenho um fraco pela poesia de Vinicius de Moraes, Fernando
Pessoa e Hilda Hilst. Todos eles são professores maravilhosos com quem gostaria
de tomar um café. Os contemporâneos que me instigam e admiro são Godofredo de
Oliveira Neto, com seu romance Menino
oculto, e Marcelino Freire, com seus contos em Angu de sangue.
Você já tem novos projetos na literatura?
Tenho um novo projeto, mas não se
trata de um romance. É uma peça musical. Eu, como atriz de musicais, tenho
vontade de realizar um totalmente brasileiro e moderno, que fale com a
juventude – que não frequenta teatro, muito menos teatro musical. Está sendo um
desafio, mas estou me esforçando. Além disso, quero reunir meus melhores
contos, que estão todos na gaveta, e publicá-los. Acho que Marcelino Freire é
quem está me fazendo ter vontade disso.
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