Luis
Eduardo Matta começou a escrever aos 17 anos, depois que viu uma
entrevista com Jorge Amado na TV. Não parou mais. Hoje tem 11 livros
publicados, para adultos e jovens (muitos adotados em escolas), do gênero thriller –
relativamente recente na nossa ficção, como ele mesmo explica, e que mistura
suspense e ação. Suas influências literárias também são variadas – de Agatha
Christie a Borges, de Barbara Cartland a Dostoievski. Prestes a lançar A outra face do desejo pela Primavera
Editorial – o lançamento será nesta terça-feira, dia 7 –, Matta
conversou com a Shahid sobre o gênero policial de seus livros, o processo de
construção de suas narrativas e a responsabilidade (e o prazer) de escrever
para jovens.
Em seu site você diz que se especializou em tramas de mistério e
suspense fora da estrutura clássica da ficção policial. Qual seria esse padrão
clássico e que elementos você traz de novo?
O que se convencionou chamar de ficção policial clássica é a
história de mistério onde um dos personagens desempenha o papel de
detetive/investigador e o enigma a ser desvendado funciona como fio condutor da
trama. Meus livros não seguem muito essa linha investigativa. São histórias
mais complexas do ponto de vista narrativo nas quais não só o mistério, mas também
o suspense e a ação desempenham papel importante. Esses livros são mais
conhecidos como thrillers, embora muita gente discorde dessa
designação, por se tratar de um estrangeirismo. Mas o fato é que não existe na
língua portuguesa um termo que traduza exatamente o significado de thriller.
Talvez até por esse gênero ser relativamente recente na nossa ficção.
A outra face do desejo,
lançado nesta terça-feira pela Primavera Editorial, mistura história de amor,
paixão, vingança e crime. De onde veio a ideia para essa trama específica?
Foi em meados de 2006. Um amigo que trabalhava numa grande editora
comentou que eles estavam interessados em publicar um romance brasileiro na
linha dos livros de Nora Roberts e Barbara Delinsky, duas autoras americanas de
ficção romântica, e me sugeriu que eu fizesse isso. Achei a proposta atraente e
logo comecei a escrever a história. Até que lá pela página 15 ou 20 tive a
ideia de matar um personagem e percebi que não resistiria a adicionar um clima
de mistério e suspense à trama. Daí tive que reformular o projeto e reescrevi o
que já estava pronto, mantendo a temática romântica, mas transformando a empreitada
num thriller.
Como autor de policiais, que tipos de conhecimentos você precisa
buscar para escrever? Além do processo de criação, seu trabalho inclui
pesquisas?
Inclui, porque eu não me inspiro na minha vida ou na minha maneira
de enxergar o mundo para escrever. Procuro sempre criar uma galeria de
personagens diferentes uns dos outros e que não tenham nada a ver comigo, além
de reproduzir cenários e tratar de assuntos que não fazem parte do meu
cotidiano. Então preciso pesquisar bastante para que a trama faça sentido e soe
verossímil. É uma pesquisa por um lado teórica e, por outro, feita dia após dia
por meio do convívio humano e da observação do que se passa à minha volta.
Além de ficção policial, você escreve thrillers infantojuvenis,
como O diário perdido de Pernambuco, lançado ano passado. O que é
necessário ter em mente para escrever para esta faixa-etária?
Acho que, fundamentalmente, é preciso respeitar a inteligência dos
jovens leitores e criar tramas que os surpreendam, que não sejam condescendentes
com o estereótipo do adolescente, o que é horrível. Tenho horror a
estereótipos. Ao começar a escrever ficção juvenil, minha ideia foi passar para
os jovens de hoje a mesma experiência positiva que eu tive na minha iniciação
como leitor, durante a adolescência. Fico feliz por isso estar funcionando.
Vários de seus livros juvenis são adotados em sala de aula. Que
cuidados essa responsabilidade passa a exigir do escritor?
Meu processo de escrita é o mesmo para os livros juvenis e os
adultos. As pesquisas são igualmente rigorosas. A responsabilidade é grande,
porque é na adolescência que a maioria das pessoas faz a opção ou não pela
leitura. As visitas escolares, que faço com frequência, são uma possibilidade
de conversar com a garotada sobre questões como o prazer da leitura e a
desmistificação do objeto livro como algo restrito aos intelectuais. A boa
notícia é que os adolescentes estão lendo cada vez mais.
Quando e como você começou a escrever? Que escritores considera
referência para a literatura?
Comecei para valer em 1992 depois de assistir a uma entrevista de
Jorge Amado e Zélia Gattai na televisão. Eu tinha 17 anos. A entrevista me deu
fôlego e três meses depois terminei meu primeiro livro, Conexão
Beirute-Teeran, que foi lançado no ano seguinte. Ainda hoje Jorge Amado é
minha maior influência como escritor. Na literatura de mistério, esse papel
coube a Agatha Christie. Mas minhas referências são variadas, pois leio de
tudo: Dostoievski, Borges, Joseph Finder, Barbara Cartland... Alguns poderão
considerar essa seleção errática e inconsistente, mas eu não vejo sentido em
segregar a literatura dentro de rótulos incomunicáveis entre si.
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