Ela trabalha com os números, mas
escolheu as letras – mais precisamente a literatura – como segundo ofício e
grande paixão. Assim Ana Cristina Melo define
sua relação com a escrita, carreira na qual decidiu investir depois de ganhar,
com seus contos, três prêmios literários em 2005. Desde então, dedica-se à
literatura infantil e juvenil – publicou cinco livros, entre eles Caixa de Desejos, De volta à Caixa de Desejos e Amizade
desenhada. Nesta entrevista Ana Cristina
conta como mergulhou na literatura, fala sobre motivações e influências e
adianta seus próximos projetos – os livros O
Clube da Troca, parte de um projeto da Fundação Dorina Nowill, e o juvenil A turma do CP500, romance que
mescla informática e ficção.
Você é tecnóloga em
processamento de dados, especialista em análise de sistemas. Como a literatura
encontrou espaço entre tantos números?
Tinha nove anos quando me
apaixonei pelos livros, através dos textos nos livros didáticos. Passei a ler
compulsivamente. Essa paixão foi tão forte que logo transbordou para o desejo
de escrever. Lembro que, ainda menina, com um dicionário a tiracolo, criei
muitas poesias. Sem saber, começava a aprender o ofício da escrita. No Ensino
Médio, precisando escolher uma profissão, acabei cedendo a outro interesse. Ali
começou minha carreira na Informática. Contudo, quando publiquei meu primeiro
livro técnico, em 2002, me peguei flertando novamente com a Literatura. Quando
decidi que iria resgatar o sonho de ser escritora, logo entendi como seria a
convivência da Literatura com a Informática: bastava ocupar todo meu tempo
livre com minha nova profissão. Gosto muito da imagem da areia que preenche os
espaços de um copo que está cheio de pedras. A Literatura é a areia da minha
vida.
Quando decidiu começar a
escrever e qual é a sua maior motivação como escritora?
A vontade de escrever me
acompanha desde menina, mas só em 2005 entendi o quanto era forte esse desejo.
Eu tinha acabado de voltar de licença maternidade e estava vivendo um momento
de grande plenitude. Ao retornar ao trabalho, percebi o quanto minha relação
com a Informática estava sem cor. Para buscar caminhos, voltei a ler
compulsivamente e vi transbordar novamente o desejo de escrever. Comecei a
produzir contos e enviá-los para concursos literários. Ao ser premiada três
vezes no primeiro ano, vi que estava no caminho certo. Estudei muito durante os
últimos anos, para recuperar o tempo perdido, sempre buscando melhorar minha
escrita. Sinto-me uma adolescente quando escrevo, cheia de vida e sonhos para o
futuro. Minha maior motivação como escritora? Contar uma boa história e
despertar em meus leitores a mesma paixão e satisfação que sinto quanto tenho
um livro nas mãos.
Que autores inspiram a sua
literatura?
Há muitos autores que são grande
inspiração, pelo que provocam em mim e pelo texto especial que conseguiram
alcançar em seus livros. Minha autora nacional preferida é, sem dúvida, Lygia
Bojunga. Mas também sou fã de carteirinha de Monteiro Lobato, Pedro Bandeira,
Machado de Assis, Clarice Lispector, Fernando Sabino e Vinícius de Moraes. E
não posso deixar de citar três autoras que me fazem sentir orgulho da
literatura nacional contemporânea, pela voz incomparável e pela precisão em
seus textos: Livia Garcia-Roza, Lúcia Bettencourt e Stella Maris Rezende. Dos
autores estrangeiros, meus preferidos são Gustave Flaubert e Mario Vargas
Llosa. Mas também adoro o trabalho de Kafka, Jorge Luis Borges, Ian McEwan, J.
M. Coetzee e Marc Levy.
Você tem cinco livros publicados,
entre infantis e juvenis. Quais são os desafios de escrever para essa
faixa-etária?
Meu maior desafio é conseguir
falar de temas difíceis, porém de forma leve e atraente. Cada vez que recebo o
relato de pais contando como algum infantil meu virou o "preferido"
na contação de histórias da noite, ou leio uma resenha de leitor sobre meus
juvenis elogiando o enredo, minhas personagens ou a forma como escrevo, tenho
uma descarga de emoção e alegria impossível de medir. Esse retorno é o maior prêmio
que um escritor pode alcançar. E minha satisfação é ainda maior quando descubro
que minha narrativa alcançou não só as crianças e os jovens, mas também os
adultos.
De onde vem a inspiração para
as suas histórias?
Eu costumo dizer que sou
escritora 24 horas por dia. Por isso, não saio sem meu caderninho. Nele anoto
"fagulhas" que depois são passadas a limpo para um caderno de ideias.
Tenho centenas anotadas. (Sim, anotadas, pois escrevo à mão. O computador entra
num segundo momento). Sei que muitas dessas fagulhas nunca se tornarão nada.
Algumas podem virar apenas uma cena em um livro futuro, mas não me preocupo,
deixo que fiquem lá, descansando. De tempos em tempos, ao reler esse caderno,
acabo riscando uma ou outra ideia que perdeu a empolgação. Outras ficam me cutucando
enquanto não as faço tomar vida. Assim nascem meus enredos. Já durante a
escrita, a inspiração, em geral, vem naturalmente. Mistura tudo que sou com o
que vivi.
Que novos projetos já tem
reservados a seus leitores?
Para 2013 estão previstos dois livros.
O primeiro é O Clube da Troca,
parte de uma coleção publicada pela Fundação Dorina Nowill, com textos impressos com fontes ampliadas e em
Braille. O segundo, o juvenil A
turma do CP500, mescla informática e ficção e será publicado pela Escrita
Fina. Um dos personagens é um microcomputador antigo, que foi todo reformado e
recebeu um sistema de inteligência artificial. Cinco amigos descobrem esse
computador, chamado Billy, numa casa abandonada, e se envolvem numa
investigação que ligará o responsável pelo sumiço do criador de Billy ao hacker que invadiu o colégio deles. Para
2014, há três infantis já previstos para sair também pela Escrita Fina. E,
enquanto aguardo os novos filhinhos literários, continuo escrevendo. Além dos
infantis e um projeto de adaptação, estou dedicada a um romance jovem adulto
para que os leitores do De
volta à Caixa de Desejos possam
matar as saudades.
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