Segundo livro de Marcela Tagliaferri, Exílio (Ímã Editorial, 2012) conta a
história de um personagem que esteve 15 anos num manicômio, em plena ditadura
militar. Em conversa à Shahid, Marcela – que também é historiadora – fala sobre
seu processo de pesquisa, suas referências (reais e literárias) e as
possibilidades do livro digital.
Vicente foi trancafiado por 15 anos
num manicômio, isolado da mulher e do único filho. De volta à sua casa, descobre
que foi manipulado por uma rede de intrigas montada pelo sogro – empresário
anticomunista atuante no governo militar e fundador do IPES (Instituto de
Pesquisas e Estudos Sociais, que coordenava a propaganda ideológica
anticomunista) – com o objetivo de mantê-lo afastado da filha, por quem sente
paixão.
De onde veio a ideia para o livro?
Eu trabalho com imagens e conheço a
história de uma pessoa que ficou internada 20 anos num manicômio. A partir daí
veio a ideia de escrever sobre o tema. Criei um protagonista que vivenciasse
esta separação, perdesse as suas referências. Ao fazer as contas do tempo para
trás, percebi que podia cair na ditadura brasileira, o que aumentaria e muito a
angústia da situação vivenciada por ele. Afinal, em tempos de exceção todos nós
nos tornamos exilados em diversos sentidos.
Como sua experiência como historiadora influenciou na construção desta
narrativa, ambientada em plena ditadura militar?
Ela contribuiu principalmente na pesquisa para a montagem do cenário literário, a partir de fontes fidedignas. E criei
um cenário de acordo com a ideologia anticomunista disseminada na época através
do IPES. Pesquisei a partir do livro 1964:
a conquista do Estado (Editora Vozes, 2006) de R. Dreyfuss, uma referência
sobre o tema, entre outras leituras sobre tortura e manicômio. Além de ser um
cenário inédito na ficção brasileira.
Quais as dificuldades de escrever sobre o tema? Você chegou a ouvir
pessoas, fazer pesquisas?
Foram muitas, porque não é um tema
fácil. Foi um momento muito difícil de nossa história e juntei dois aspectos: o
histórico e o existencial. Contudo, justamente por não ser um romance
histórico, o fundamental era trabalhar a verossimilhança. Por isso fiz
pesquisas em textos históricos, conversei com pessoas, tive a ajuda do meu
analista, Luiz Alfredo Millecco, na confecção de um personagem perverso, um
torturador, além de ler muito sobre manicômio, ver filmes e conversar com a
psiquiatra Fernanda Gueiros.
Além da versão impressa, Exílio
também circula em versão digital. Quais as vantagens deste novo suporte?
A tecnologia só vem
agregar à circulação de informação e conhecimento. Vivemos numa sociedade em
rede, vejo como mais uma ferramenta. Facilita em muitos aspectos: você pode
levar vários livros dentro de um tablet caso
for viajar, ler em qualquer lugar, pelo telefone. Apesar de adorar o livro
impresso, não me sinto ameaçada pelo livro digital, ao contrário, ainda mais no
Brasil, onde não existe biblioteca nem livraria em todos os cantões do país.
Agora, o importante é saber utilizar da melhor forma. Mas, sozinhos, nem o meio
digital, nem o impresso, formam leitores – a grande questão do nosso país.
Nenhum comentário:
Postar um comentário