quinta-feira, 1 de novembro de 2012

As palavras e os silêncios de Marilia Arnaud


Suíte de silêncios (Rocco, 2012) é o primeiro romance da paraibana Marilia Arnaud, já premiada como contista. Sete anos depois de publicar O livro dos afetos, sua obra mais recente, a escritora volta a falar sobre sentimentos e perdas. Em Suíte, Duína se vê tendo de lidar com o abandono pela segunda vez em sua vida – e assim reconstrói, em dois relatos que se alternam no tempo, suas lembranças e desesperanças. Em entrevista à Shahid, Marilia – que vê na internet uma aliada dos autores de fora do eixo Rio São Paulo – fala sobre sua formação literária, seu amadurecimento como escritora, prêmios e reconhecimentos e os mistérios que envolvem sua criação.

Entre O livro dos afetos e Suíte de silêncios, passaram-se sete anos. O que amadureceu na escritora nesse período?
Como não tenho pressa em publicar, trabalho com afinco e determinação, sempre disposta a fazer melhor do que já fiz. Cobro muito de mim mesma. Não tenho dúvidas de que dei um salto entre o meu último livro de contos e o primeiro romance. Isso é natural, quando se investe na carreira literária. Se o escritor não avança, se permanece com o mesmo texto, não é escritor. Então, é melhor desistir.

Como surgiu Suíte de silêncios?
Tracei um esboço de um romance, e acabei escrevendo outro. A criação é algo bem misterioso! De início, projetei apenas uma violinista obsessiva e atormentada com a própria falta de talento, porque queria escrever sobre o valor da arte na vida das pessoas, e foi outra mulher que se impôs, com uma história de vida que eu não planejara, como se o livro se escrevesse por ele mesmo. É isso que costumo chamar de o sopro da criação. Você está ali, com uma determinada história para contar, e de repente, como se alguém soprasse no seu ouvido, você vai escrevendo outra.

Você já disse que escrever Suíte de silêncios exigiu muito de si. Por quê?
Inicialmente, pelo fato de ser o meu primeiro romance. Penso que as dificuldades na construção de um romance não são maiores do que aquelas com que nos deparamos na de um conto, são, na verdade de uma outra ordem. Penei até encontrar o tom, o ritmo certo, e a coisa começar a fluir. Além da tensão dolorosa que envolve a própria escritura, o Suíte de silêncios é uma história de perdas, abandono, desesperança. Acabei sendo tomada pelas lembranças de Duína, a protagonista, por seus sentimentos de desamparo e inadequação.

Qual é a sua formação literária? Quando e como começou a ler e escrever?
Meu pai tinha uma boa biblioteca em casa e, na escola, exigiam (mesmo!) que lêssemos José de Alencar, José Lins do Rego, José Américo de Almeida, Machado de Assis, entre outros. De certa forma, todos os grandes escritores que li despertaram em mim o desejo de escrever. Zola, Balzac, Eça de Queiroz, Dostoievsky, Tolstoi, Shakespeare, André Gide, Marguerith Yourcenar, Virgínia Woolf... Também comecei a escrever ainda menina. Escrevia à noite e lia na manhã seguinte, na hora do recreio, para meia dúzia de colegas que abriam mão das brincadeiras para ouvir minhas histórias.

O fato de viver longe do eixo Rio São Paulo atrapalha a carreira do escritor?
Dificulta, sim. Mas acho que já foi bem pior. Houve um tempo em que não se conseguia sequer fazer um editor ler os originais de um autor que vivesse fora do eixo, com raras exceções. A internet, os blogs literários, as redes sociais abriram um canal de interação entre o meio literário do eixo Rio São Paulo e o resto do país, facilitando a vida de todo mundo que escreve.

O que mais gostaria que acontecesse com Suíte de silêncios? Um prêmio literário?
Gostaria que o Suíte de silêncios tivesse muitos leitores. Leitores espalhados pelo Brasil inteiro. Que fosse editado noutras línguas. Um prêmio literário? Também! Até porque o prêmio traz com ele mais leitores. Qual o escritor que não deseja o reconhecimento público do seu trabalho?

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