Suíte de silêncios (Rocco, 2012) é o primeiro
romance da paraibana Marilia
Arnaud, já premiada como
contista. Sete anos depois de publicar O livro dos afetos, sua obra
mais recente, a escritora volta a falar sobre sentimentos e perdas. Em Suíte,
Duína se vê tendo de lidar com o abandono pela segunda vez em sua vida – e
assim reconstrói, em dois relatos que se alternam no tempo, suas lembranças e
desesperanças. Em entrevista à Shahid, Marilia – que vê na internet uma aliada
dos autores de fora do eixo Rio São Paulo – fala sobre sua formação literária,
seu amadurecimento como escritora, prêmios e reconhecimentos e os mistérios que
envolvem sua criação.
Entre O
livro dos afetos e Suíte de silêncios, passaram-se sete
anos. O que amadureceu na escritora nesse período?
Como não tenho pressa em publicar, trabalho com afinco e
determinação, sempre disposta a fazer melhor do que já fiz. Cobro muito de mim
mesma. Não tenho dúvidas de que dei um salto entre o meu último livro de contos
e o primeiro romance. Isso é natural, quando se investe na carreira literária.
Se o escritor não avança, se permanece com o mesmo texto, não é escritor.
Então, é melhor desistir.
Como
surgiu Suíte de silêncios?
Tracei um esboço de um romance, e acabei escrevendo outro. A
criação é algo bem misterioso! De início, projetei apenas uma violinista
obsessiva e atormentada com a própria falta de talento, porque queria escrever
sobre o valor da arte na vida das pessoas, e foi outra mulher que se impôs, com
uma história de vida que eu não planejara, como se o livro se escrevesse por
ele mesmo. É isso que costumo chamar de o sopro da criação. Você está ali, com
uma determinada história para contar, e de repente, como se alguém soprasse no
seu ouvido, você vai escrevendo outra.
Você já disse
que escrever Suíte de silêncios exigiu muito de si. Por quê?
Inicialmente, pelo fato de ser o meu primeiro romance. Penso que
as dificuldades na construção de um romance não são maiores do que aquelas com
que nos deparamos na de um conto, são, na verdade de uma outra ordem. Penei até
encontrar o tom, o ritmo certo, e a coisa começar a fluir. Além da tensão
dolorosa que envolve a própria escritura, o Suíte de silêncios é
uma história de perdas, abandono, desesperança. Acabei sendo tomada pelas
lembranças de Duína, a protagonista, por seus sentimentos de desamparo e
inadequação.
Qual é a sua
formação literária? Quando e como começou a ler e escrever?
Meu pai tinha
uma boa biblioteca em casa e, na escola, exigiam (mesmo!) que lêssemos José de
Alencar, José Lins do Rego, José Américo de Almeida, Machado de Assis, entre
outros. De certa forma, todos os grandes escritores que li despertaram em mim o
desejo de escrever. Zola, Balzac, Eça de Queiroz, Dostoievsky, Tolstoi,
Shakespeare, André Gide, Marguerith Yourcenar, Virgínia Woolf... Também comecei
a escrever ainda menina. Escrevia à noite e lia na manhã seguinte, na hora do
recreio, para meia dúzia de colegas que abriam mão das brincadeiras para ouvir
minhas histórias.
O fato de
viver longe do eixo Rio São Paulo atrapalha a carreira do escritor?
Dificulta, sim. Mas acho que já foi bem pior. Houve um tempo em
que não se conseguia sequer fazer um editor ler os originais de um autor que
vivesse fora do eixo, com raras exceções. A internet, os blogs literários, as redes sociais
abriram um canal de interação entre o meio literário do eixo Rio São Paulo e o
resto do país, facilitando a vida de todo mundo que escreve.
O que mais
gostaria que acontecesse com Suíte de silêncios? Um prêmio
literário?
Gostaria que o Suíte de silêncios tivesse
muitos leitores. Leitores espalhados pelo Brasil inteiro. Que fosse editado
noutras línguas. Um prêmio literário? Também! Até porque o prêmio traz com ele
mais leitores. Qual o escritor que não deseja o reconhecimento público do seu
trabalho?
Nenhum comentário:
Postar um comentário