O escritor e compositor Mauro Santa Cecília lança
nesta terça-feira, dia 22, o CD Vou
à Vila – em que interpreta
canções inéditas e sucessos como Por
você – e seu segundo romance, Argos (Móbile Editorial), história de um jovem solitário que se envolve num
golpe cibernético. Em entrevista à Shahid,
Mauro fala sobre os desafios e os prazeres de produzir seu primeiro disco
autoral, sobre composições, inspirações, letras e livros.
Vou
à Vila é um CD autoral, do qual participaram músicos de
expressão como Frejat, Leoni e integrantes do Blues Etílicos. Qual a
importância deste trabalho para você?
É a realização de um sonho.
Quando compus com Frejat e Maurício Barros minha primeira canção, Por você, imaginei que um dia
poderia gravar um disco autoral. Agora, 15 anos depois, isso foi concretizado.
Mas quero deixar claro que não tenho a pretensão de virar cantor. É um disco de
letrista interpretando suas próprias músicas. E eu tive a sorte de contar com
grandes parceiros nesta empreitada. De Frejat, Maurício Barros e Cia. (Barão
Vermelho) a Hyldon, Jards Macalé, George Israel (Kid Abelha), Omar Salomão,
Humberto Effe (Picassos Falsos), Sideral e também o futuro: Rafael Frejat,
filho do líder do Barão, e Júlio Santa Cecília, meu filho, com quem compus a
inédita Sob os olhos um oceano.
O CD conta com seis regravações, entre elas Por
você e Amor pra recomeçar, e cinco
músicas inéditas.
Como nasceu o projeto do
disco? Quais foram os prazeres e desafios ao longo de sua produção?
A
ideia surgiu lá atrás, em 1998, com a minha primeira música gravada. Mas o
projeto em si começou a tomar forma no final de 2011, quando o baixista do
Barão Vermelho, Rodrigo Santos, me disse que eu deveria gravar um disco, que eu
era afinado, tinha boas músicas e que ele queria produzir o trabalho. A minha
editora musical, a Warner Chappell, topou o projeto, que durou quatro meses
envolveu 30 músicos - todos do Barão Vermelho, Sergio Serra (ex-Ultraje a
Rigor), Cláudio Bedran e Pedro Strasser, do Blues Etílicos, Luce (guitarrista
que tocou com Cazuza, Cássia Eller e Lobão), Nilo Romero (baixista e produtor
do Cazuza), Qinho, um dos mais talentosos artistas da nova geração, Humberto
Barros (tecladista de várias bandas do pop rock) e Maurício Negão, entre
outros. Foi muito prazeroso reunir essa turma toda, acompanhar a elaboração dos
arranjos e participar da montagem das canções. Eu passei a ouvir música de
outra maneira. O maior desafio foi tentar cantar de forma simples, colocada,
sem tentar qualquer espécie de floreio. O destaque do disco são as composições
e os arranjos, os timbres. A voz não podia atrapalhar.
O lançamento do CD coincide
com o lançamento do seu segundo romance, Argos, pela Móbile Editorial. A
elaboração dos dois foi paralela?
Não,
eu escrevi o romance primeiro. Levei dois anos, de início lendo muita coisa e
em seguida botando a mão na massa propriamente. Minha intenção era ter lançado
o disco e o livro em 2012, quando fiz 50 anos, uma data redonda. Mas o CD levou
mais tempo do que o previsto para ser fabricado e o lançamento acabou ficando
mesmo para 2013. Por coincidência, todos os meus três livros publicados
anteriormente (dois de poesia e um romance) foram lançados em anos ímpares.
Então, ainda que por caminhos tortos, esta tradição do que vem dando certo foi
mantida.
Como é para você conciliar as
carreiras de músico e escritor? O que separa e o que aproxima as duas artes?
Antes
de mais nada, é preciso ser um pouco esquizofrênico... Mas não me considero
exatamente um músico. Sou letrista, compositor. Apesar de ter ouvido musical, a
minha praia é a palavra. Esse é o ponto em comum entre o meu trabalho de letrista
e o de escritor: o uso da palavra. E não vai muito além disso. Cada gênero tem
a sua especificidade. A letra de música e a poesia até possuem algumas
semelhanças, mas a letra e a prosa, por exemplo, estão muito distantes. E isso
para mim é motivador. O artista precisa correr riscos.
Argos conta a história de um jovem solitário que se envolve num
golpe cibernético. De onde veio a ideia para a história?
A
ideia veio do romance O
adolescente, de Dostoiévski. Eu estava debruçado sobre os autores russos,
li Tolstoi (Guerra e Paz), Turgueniev (Pais e filhos) e uma parte
da obra de Dostoiévski, como os clássicos Crime
e castigo, Irmãos
Karamazov, O idiota e O
jogador, quando me caiu nas mãos O
adolescente, que é um livro pouco conhecido, pelo menos entre nós. A partir
dessa leitura, criei a minha própria história, ambientada no Brasil e com
questões contemporâneas, como é o caso do mundo virtual. Daí nasceu Argos.
E para suas letras, onde
costuma buscar inspiração?
Sobre a inspiração para as
letras, o trabalho é ininterrupto. Pode vir de um diálogo entrecortado ouvido
na rua, de um filme a que assisti, de alguma situação vivenciada, de uma
conversa com amigos. Às vezes ocorre também de ser uma encomenda. Um título
sugerido, por exemplo. No caso da canção com o Rafael, filho do Frejat, e o
Júlio, meu filho, os meninos me propuseram o título Sob os olhos um oceano.
Um título denso, poético. Nada de Amor
pra recomeçar ou Por você... Tive que me virar.
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