É entre versos
eróticos e poemas inspirados na cidade de Brasília que transita a arte de Nicolas Behr, defensor da poesia
marginal, sem "terno e gravata" – e do meio ambiente, área à qual se
dedica há quase 30 anos. O poeta de Cuiabá, que na década de 1970 distribuía de
bar em bar livrinhos seus mimeografados, acaba de lançar Meio
seio, livro de poemas
eróticos – e minimalistas – editado pela Língua Geral. Nesta entrevista
à Shahid, o poeta fala sobre leitores, escritores, paixões que
inspiram seus versos, maturidade e internet, para ele "o mimeógrafo dos
novos tempos".
Por que a
ideia de escrever Meio seio?
Depois de ler O amor natural, do Drummond, fiquei
com vontade de escrever uns poemas eróticos, mas fiquei na dúvida. Depois deste
livro ainda seria possível escrever poesia erótica? Aí resolvi reunir alguns
poemas, para um livro cujo título inicial seria A miséria do amor,
mas felizmente mudei para Meio seio.
Além de poemas
eróticos, sobre que outros assuntos escreve?
Escrevo bastante sobre a cidade de Brasília, uma verdadeira
obsessão poética. Um tema inesgotável, esta cidade fantástica. Escrevo também
sobre a minha infância em Mato Grosso, sendo que recentemente publiquei A
lenda do menino lambari.
Qual o perfil
do seu leitor? Trata-se de um público possível de definir?
Vamos tentar: meu público é jovem, classe média,
intelectualizado. Muitos deles também escrevem.
O que este
livro traz de novo em relação aos livrinhos mimeografados que você vendeu de
mão em mão anos atrás?
A maturidade é inexorável. Mas permaneço fiel aos poemas curtos,
e a grande diferença é a maior abrangência do livro, pois Meio seio está sendo
distribuído nas livrarias, nacionalmente. Com os livros mimeografados os poemas
chegavam até onde, fisicamente, o poeta poderia chegar.
Qual o valor
da 'geração mimeógrafo'? O que falta nos poetas hoje?
Ah, a geração mimeógrafo tirou o terno e a gravata da poesia.
Trouxe o poeta de volta pra rua. Era, pela primeira vez, poesia de jovem pra
jovem. Oxigenou a poesia, aumentou seu público, desmistificou o poeta. Não sei
o que falta aos poetas hoje. O de sempre: escrever melhor. Mas lamento dizer
que não sei o que isso significa.
Aos 10 anos,
seu sonho era ser geólogo. Quando e por que começou a escrever?
Comecei a escrever poesia porque Brasília entrou na minha vida,
quando tinha 14, 15 anos. A poesia foi resultado do impacto, do conflito com
esta cidade na época artificial, inóspita, agressiva. Pode parecer dramático (e
é), mas a poesia me salvou.
Que
dificuldades um poeta tem que encarar no Brasil de hoje? E na década de 1970,
quando você publicou por conta própria seus livros?
A dificuldade maior continua a mesma, hoje e nos anos 1970:
fazer o livro chegar ao leitor. É a parte mais trabalhosa. E poesia não vende
mesmo, nem aqui nem em nenhum lugar do mundo. O curioso é que poesia é o gênero
literário mais praticado, todo mundo na vida escreve pelo menos um poema, de
amor, preferencialmente. Mas é o gênero menos vendido.
Em sua
opinião, em que a internet ajuda e em que atrapalha o trabalho do escritor?
A internet ajuda muito. Uso bastante. O máximo que posso, mesmo
não sendo desta geração do computador. Tenho minhas limitações. A internet, o
blog de hoje, é o mimeógrafo dos novos tempos. Claro, atingindo um público
muito maior. A internet é um meio. Vale o que está escrito. O excesso de poemas
na internet é bom, pois a qualidade sai da quantidade. Poesia nunca é demais. E
o filtro fica por conta do senhor tempo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário