Na lista dos mais vendidos desde
que foi lançado, o livro Giane - Vida,
arte e luta (Sextante) – biografia de
Reinaldo Gianecchini contada pelo jornalista e escritor Guilherme Fiuza – faz um
retrato da vida do ator, da infância no interior ao reconhecimento e à fama, expondo
com delicadeza a doença que enfrentou. Nesta entrevista feita pela Sextante,
Giane relembra suas histórias e fala sobre os bastidores do processo que
resultou no livro.
Você tem apenas 40 anos e sua
vida já dá, por assim dizer, um romance, uma novela – uma biografia, enfim –,
com os muitos lances de aventura que você viveu, o mergulho na vida. De onde
surgiu a vontade de escrever essa história?
O motivo se chama Guilherme
Fiuza, o autor do livro. Eu sou muito fã do Guilherme como jornalista, tinha
certeza de que ele faria um trabalho magnífico, fiquei curioso para saber como
ele contaria a minha história. E, de fato, não me decepcionei. Eu acho o livro
brilhante do ponto de vista da narrativa. Ele conta a minha história como se
fosse um filme, com dramaturgia; e você acompanha cada passo, curtindo de uma
forma muito saborosa, com imagens bonitas e fortes.
Você ainda tem a gana de morar
no exterior, tantas vezes relatada no livro?
Tenho.
Sinto que ainda vou fazer – há alguns lugares no mundo onde eu sinto que tenho
de morar, ao menos por uma temporada. Eu sou cidadão do mundo. Tenho que estar
sempre em movimento. A minha base vai continuar sendo o Brasil, porque hoje em
dia é onde eu quero que meu trabalho esteja centrado, mas gostaria de ter o
prazer de morar em alguns lugares como Londres e Nova York. E mais alguns.
Pelo livro, você já fez muita
coisa nessa vida. O que está faltando?
Está
faltando muita coisa de trabalho – por exemplo, não fiz o cinema que eu
gostaria de ter feito. Eu me orgulho das várias participações, mais ainda não
fiz O filme, interpretando um personagem que pudesse ser um mergulho muito
profundo. E também a minha instituição para cuidar de crianças, adolescentes e
idosos no interior de São Paulo, em Birigui. Esse sonho está prestes a se
realizar, mas não sossego enquanto não estiver a mil por hora, ajudando muita
gente.
Como foi o processo de
entrevistas com Fiuza? Ele conta que chegou a gravar sete horas seguidas com
você, e que nunca fizera isso antes...
Foram várias sessões de conversa
que pareciam mais terapia do que outra coisa! Fui passando e repassando minha
vida a ele, lembrando vários detalhes, cenas que eu já não recordava, sentindo
cheiros que vinham lá do passado e que eu tinha esquecido... Foi muito
especial, um trabalho de muita confiança. Foi um mês de entrevistas e muito
prazeroso. Tinha horas que eu me esquecia de beber água, ir ao banheiro, a
gente emendava num papo que era muito bom.
Quais foram os momentos mais
delicados de lembrar ao longo do processo de elaboração?
A parte da doença. Eu não tenho
nenhum problema de falar dela, mas acabei de sair do processo, e estou muito
feliz, com muita vontade de falar de coisas novas. Voltar à doença e reviver
tudo aquilo foi talvez a parte menos agradável, mas muito necessária. O resto
foi tão divertido de relembrar! Foi muito interessante toda a articulação.
Seu jeito de bom moço e o
temperamento gentil são unanimidade nacional. Além disso, você prima pela
discrição. Mas o livro expõe alguns momentos de fúria, destempero e angústia
profunda. Algum desses momentos te causou tensão ao ser revelado?
Não.
A ideia do livro era NÃO me pintar como super-homem, um ser acima do bem e do
mal. A ideia era essa mesma: mostrar os meus defeitos, as minhas limitações,
meus momentos de fraqueza, irritação. Eu acho divertido mostrar que tudo faz
parte do que se é. No começo, fiquei meio aflito com a exposição de outras
pessoas no livro. Mas logo relaxei – vi como o livro trata com delicadeza e
elegância todos que participam dele. E conta a minha história sem entrar em
detalhes que não são de nenhuma importância ou que não devem ser divulgados,
não devassa a intimidade da minha ex-mulher ou de amigos. E eu tinha essa prerrogativa
– se eu não concordasse, poderia pedir para tirar. Mas eu concordei com tudo e
acho que tudo o que ele escreveu é relevante e necessário. E não ficou faltando
nada.
Qual é sua sensação ao
terminar de ler a própria história?
Eu
comecei aflito e terminei absolutamente contente de ver uma história tão bem
contada. Foi muito bem retratada – quase com poesia, em vários capítulos. Um
exemplo é o retrato do fim do meu casamento, Fiuza retratou direitinho como
foi. O livro é perfeito mostrando que a gente tem que estar sempre tomando as
decisões que levam a algum lugar. E essas decisões têm consequências, todas
elas. Essa foi a minha vida: a criança de Birigui, depois saindo de lá,
enfrentando a cidade grande e morando fora do país, tomando decisões de seguir
o seu destino. Fiquei orgulhoso de ter a minha história contada tão bem. E
fiquei até surpreso: achei a minha vida bem interessante!
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