Lançado esta semana pela editora Record, "De gados e homens" é o quinto romance da
escritora carioca Ana Paula Maia. Reconhecida pela firmeza e precisão
de sua escrita, nesta obra – que se passa dois anos depois de "Carvão animal" – ela retoma o drama do
personagem Edgar Wilson. "O livro se desenrola num matadouro de gado
bovino numa região fictícia, mas que se parece com várias partes do
Brasil", avalia Ana Paula. Nesta entrevista a Shahid ela
fala sobre as mudanças por que passou seu protagonista, revela que guarda para
si as entrelinhas do que escreve e deixa seus conselhos aos autores estreantes.
Em entrevista ao jornal Rascunho você
disse que só escreve pela possibilidade de ir além. O que você alcança com a
literatura?
Nas minhas primeiras incursões pela
literatura, percebi claramente a possibilidade de ir além e é isso o que mais
me mantém interessada na escrita literária. A cada livro, alcanço um novo
registro dos assuntos que me interessam.
Seus livros trazem cenas fortes, um lado
brutal do cotidiano, talvez desconhecido pela maioria. Esses temas, você os
escolheu ou foram eles que escolheram você?
São temas atraentes para mim. Entender
como cheguei até eles é impossível, mas isso nunca me importou. O que me
interessa durante a escrita é a relação com os personagens e conhecer suas
estórias. A literatura é um lugar íntimo e particular que, por fim, compartilho
com os outros. Mas as entrelinhas, eu não compartilho. Há muito na minha
escrita que não compartilho, que mantenho para mim, mesmo que você acredite que
entendeu tudo.
Você disse certa vez que seu interesse
literário é por um tipo especial de violência, aquela gerada por profissões
mais brutas, de quem tem que fazer o trabalho sujo. "De gados e
homens" também segue esta linha?
Novamente repito: é impossível saber de
onde vem esse interesse específico. Eu apenas me interesso pelo assunto.
"De gados e homens" também segue esta linha – aliás, meus últimos
livros seguem.
O que "De gados e homens" traz
de novo em relação a livros mais recentes? Ele também será parte de uma série?
Este livro não pertence a uma trilogia,
porém segue a linha narrativa dos outros. Mas, ainda assim, é diferente em
termos de trama. Pela primeira vez existe um mistério, um elemento sobrenatural
no livro. Pela primeira vez o Edgar Wilson, protagonista deste livro e também
do romance "Entre rinhas de cachorros e porcos abatidos",
tem o caráter mais revelado, já que neste momento tudo é fundamental para ele
se tornar o Edgar Wilson que se tornou com o passar dos anos. Lembrando que em
"De gados e homens" o Edgar tem vinte e poucos anos.
Você começou a escrever na internet, publicando
a história do "Entre rinhas..." num blog. Que espaço têm as mídias
sociais na sua carreira? Que conselho daria aos autores que estão começando?
Comecei minha carreira com a publicação
do romance "O habitante das falhas subterrâneas", em
2003, pela editora 7 Letras. A partir daí, iniciei minha jornada na literatura,
vindo a participar, por exemplo, da antologia de contos "As 25 mulheres
que estão fazendo a nova literatura brasileira". A internet veio em 2006,
com a publicação de "Entre rinhas...", depois de ele ter sido
publicado parcialmente na Itália um ano antes, numa coletânea de contos pela editora
Mondadori.
Atualmente utilizo as redes sociais para
manter o contato com leitores interessados e divulgar meus trabalhos. Aos novos
autores digo, independentemente do meio de veiculação dos seus textos, que
façam a diferença com sua escrita, que se esforcem diariamente, pois a jornada
é árdua.
Leia o primeiro capítulo de seu romance, publicado no jornal Rascunho:
http://rascunho.gazetadopovo. com.br/de-gados-e-homens/
http://rascunho.gazetadopovo.
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