Já pensando no
terceiro volume da trilogia sobre a história recente do México, que será
narrado durante a velhice do protagonista, Juan
Pablo Villalobos celebra o sucesso de "Se vivêssemos em um lugar normal" (Companhia
das Letras), recém-lançado no Brasil e
já traduzido para outros sete idiomas. Irreverência e humor ácido dão o tom à
história do adolescente Orestes, que narra sua vida pacata na cidade de Lagos
de Moreno enquanto reflete sobre as desigualdades do país e o papel
insignificante que sua família ocupa no mundo.
Nesta
entrevista, o autor mexicano compartilha as estratégias narrativas com que
pautou seus dois primeiros romances ("Se vivêssemos..." e "Festa no Covil"),
avalia as semelhanças entre Brasil e México e reflete sobre sua estreia na
literatura aos 37 anos: "Para mim, chegar ao primeiro livro foi um
processo muito longo".
Enquanto o
narrador de "Festa no covil" era uma criança, quem narra "Se
vivêssemos..." é um adolescente. Qual o desafio de assumir essas vozes?
Quais foram, se houve, suas inspirações literárias para isso?
"Festa no
covil" foi um desafio de "limitação": o que pode e não pode
dizer Tochtli, o menino narrador do romance. O desafio era encontrar as estratégias
narrativas para poder contar a história, porque essa história era impossível de
contar sem uma visão adulta: é por isso que Tochtli sempre está repetindo o que
os adultos falam, que ele os espia, do contrário o romance ficaria incompleto.
Quanto a "Se vivêssemos em um lugar normal", o desafio era construir
uma voz narrativa que fosse adulta intelectualmente, mas adolescente
sentimentalmente.
Quando começou
a escrever "Festa no covil", já tinha as histórias dos dois livros em
mente, ou mesmo o projeto da trilogia? Como nasceu este segundo romance?
A ideia da
trilogia só surgiu quando terminei o segundo romance e percebi que os dois, e o
projeto do terceiro, tinham algumas coisas em comum: um tom narrativo
humorístico e a estratégia de narrar as questões sociais, econômicas e
políticas do México desde a perspectiva de uma família. Além disso, eles se
situam em três diferentes fases da vida: infância, adolescência e velhice (o
terceiro, que estou escrevendo agora).
Você disse em
seu blog que a versão definitiva do "Se vivêssemos..." foi escrita no
Brasil, e que a realidade mexicana é um pouco brasileira. No que essas
realidades se parecem?
Em que o
grande problema dos dois países é a desigualdade, o abismo que existe entre
ricos e pobres.
Qual a
repercussão do seu livro entre os leitores mexicanos?
Em geral, o
livro teve uma boa recepção entre a crítica. No caso de "Se vivêssemos em
um lugar normal", que é um livro no qual a política mexicana ocupa um
lugar muito importante, fiquei muito feliz com os comentários positivos de
alguns jornalistas, apresentadores de noticiário, comentaristas políticos,
etc., pessoas muito bem informadas do que acontece no país.
"Festa no
covil" foi traduzido para 15 idiomas. A que atribui tamanho sucesso?
Para o autor é
complicado falar dos motivos do sucesso ou fracasso do próprio trabalho. O
autor deixa de ter o controle do livro quando publica, e muitas questões
extra-literárias podem condicionar o resultado do livro. Eu acredito que o
autor tem que se acostumar com isso e não ligar muito, do contrário o processo
de escrita fica "contaminado". Felizmente, "Se vivêssemos em um
lugar normal" está indo pelo mesmo caminho da "Festa no covil",
até hoje está sendo traduzido a oito idiomas.
Sua carreira
de escritor é relativamente recente. Como e quando começou a se dedicar à
literatura?
Eu comecei a
escrever com 14, 15 anos. Publiquei tarde, isso é verdade: "Festa no
covil" saiu em 2010 em espanhol, quando eu tinha 37 anos. Fiz o grado em
literatura espanhola, faço um doutorado em teoria literária, nunca parei de
escrever durante os mais de 20 anos que passaram entre a adolescência e a
publicação da "Festa no covil". Para mim, chegar a esse primeiro
livro foi um processo muito longo.
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