Autora de oito
obras – cinco romances e três livros de contos – a escritora Miriam Mambrini se prepara para o relançamento de "A outra metade",
nesta segunda-feira, 16, como parte da festa de aniversário dos 20 anos da Editora 7Letras.
Neste que foi seu primeiro romance publicado, Miriam constrói o reencontro de
duas amigas de infância e reflete sobre a fronteira entre o real e a fantasia,
além de trazer delicadamente à tona questões do universo feminino e humano.
"No caso das duas amigas, sinto-as como reflexos de duas metades da minha
vida", diz a autora, que ainda nos conta sobre seu vínculo com a Editora
7Letras, a publicação recente de um conto seu na revista inglesa Litro e projetos literários para o ano que
vem.
"A
outra metade" conta a história de duas amigas que se reencontram – uma
imaginando como seria a vida se estivesse na pele da outra, mais aventureira e
livre. De onde veio a ideia para este romance?
Minhas
inspirações quase sempre vêm de situações que vivi ou observei, de fatos que me
marcaram, e depois foram modificados pela imaginação, de modo que passaram a
não ser mais o vivido ou observado, mas outra coisa. Enfim, se tornaram ficção.
No caso das duas
amigas, sinto-as como reflexos de duas metades da minha vida. Tive experiências
de liberdade, que me fizeram compreender os atos e sentimentos de Vera, e
outras de mulher casada, presa à sua condição de esposa, mãe e dona de casa,
como Lilian. Mas foram, sobretudo, vivências de amigas que me permitiram
"encorpar" os personagens e lhes dar uma personalidade mais definida.
O livro toca
em questões bem femininas (ainda que estas se desdobrem em questões humanas
mais amplas). Era essa sua intenção quando começou a escrever a história?
Até este
livro, eu escrevia com frequência do ponto de vista masculino. Tinha medo de
cair na literatura "mulherzinha". Queria tratar da vida e do
comportamento do ser humano, fosse ele homem ou mulher, e achava o ponto de vista
masculino mais interessante. Mas conhecia tão bem as questões que diziam
respeito ao universo feminino, que acabei cedendo. Quisesse eu ou não, era uma
mulher e minhas experiências eram femininas.
Comecei este
livro de forma muito despretensiosa, sem saber aonde ele ia chegar. Imaginava
ter apenas matéria para um conto: Duas amigas que não se veem há muito tempo se
reencontram num supermercado. Cada uma olha o carrinho da outra e imagina a
vida representada pelas mercadorias escolhidas. Mas logo percebi que havia
muito a contar. Algumas leitoras se identificaram e elegeram esse romance como
seu preferido, e, para minha surpresa, alguns leitores também.
Sua trajetória
como escritora está ligada à história da editora 7Letras, que está comemorando
20 anos este mês. Como surgiu esse vínculo?
Já havia
publicado um primeiro livro de contos, "O baile das feias", por conta
própria, e tinha uma segunda coletânea pronta, sem saber para onde encaminhar.
Um amigo, o poeta Armando Freitas Filho, me apresentou ao Jorge Viveiros de
Castro, que então se refugiava num pequeno jirau na livraria Sette Letras, no
Jardim Botânico. Estive lá várias vezes. Nossas conversas iam além da edição do
livro e nos tornamos amigos.
Publiquei esse
livro, "Grandes peixes vorazes", em regime de coedição, pela então
Sette Letras, em julho de 1997. Eu praticamente não conhecia ninguém do mundo
literário, então Jorge pediu ao poeta Carlito Azevedo que fizesse a orelha do
livro, maravilhosa, por sinal. O romance "A outra metade", do ano
2000, foi aposta do Jorge, (acho que) por sua confiança em meu trabalho.
Recentemente
um conto seu foi publicado na revista inglesa Litro. Qual a importância dessa
visibilidade para você?
Me espantei
com a repercussão da publicação de meu conto "Breu" na revista inglesa.
Meus amigos e leitores acharam o máximo. Talvez a aceitação do trabalho de um
escritor fora do Brasil o legitime, lhe dê mais status. A publicação na Litro
foi vista como um reconhecimento da qualidade de minha escrita, tanto por mim
quanto pelos outros.
E o que
podemos esperar da escritora Miriam para o próximo ano?
Tenho um
romance inédito que, espero, será publicado em 2014. Alguns contos meus já
foram aceitos para publicação em outras revistas estrangeiras. No momento estou
um pouco distante dos romances, trabalho em contos, que são uma delícia de
escrever e de ler. No fundo, apesar de ter escrito cinco romances, e apenas
três coletâneas de contos (sem contar a participação em livros coletivos), me
sinto mais contista do que romancista.
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