segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Os versos versáteis de Bassini

Pé no chão, sim, mas ao mesmo tempo movido pela originalidade de seus versos, que nesta obra dividem a cena com elementos de outros gêneros. Assim é o escritorMarcos Bassini, que lança nesta terça-feira, dia 10, o livro de poesias "Senhorita K" (Ed. Patuá), fruto do Prêmio Edith – Só para Poetas organizado por Marcelino Freire. Influenciado pelo escritor Gonçalo Tavares, Bassini se desafia a contar, através da poesia, o drama de uma personagem angustiada pela culpa, explorando as questões afetivas, mas sobretudo as mais políticas e atuais.


Nesta entrevista a Shahid o autor fala sobre o nascimento de "Senhorita K", suas inspirações e expectativas, e adianta detalhes do romance que está escrevendo, ambientado na ditadura militar. "A gente fala muito sobre a tortura na ditadura e esquece que ela acontece até hoje. Só que o Herzog hoje se chama Amarildo. Eu diria que este futuro romance (...) se passa nos dias atuais", diz. Confira a conversa.

"Senhorita K" é um livro de poesias que se propõe a contar, ao longo de capítulos, a história de uma personagem atormentada pela culpa. Como nasceu essa ideia?
O prêmio que possibilitou a publicação coincidiu com pesquisas que eu estava fazendo sobre o período da ditadura. E sobre a dificuldade que temos de lidar com esse assunto, aqui no país, muito mais que em qualquer país sul americano. Ao refletir sobre a culpa nas relações afetivas através da Senhorita K – inspirada em Josef K, de O Processo –, eu tentei traçar um paralelo com essa dificuldade de punir os responsáveis por este período nefasto da nossa história.

Acha que sua experiência em outras áreas – além de escritor, você é roteirista, redator e compositor – influenciaram sua forma de escrever o livro?
Sem dúvida, este livro não existiria – ao menos não dessa forma – se eu não trabalhasse com isso. A presença de personagens, diálogos e os três atos do livro só estão aí porque poeta, redator e roteirista habitam o mesmo corpo.

Que escritores inspiraram seu estilo e mesmo a história de "Senhorita K"?
Na poesia, acredito que a polonesa Wislawa Szymborska seja a grande referência. E Gonçalo M. Tavares é sempre uma influência e inspiração.

A publicação do livro é fruto da sua premiação no concurso Edith – Só para poetas. Como vê esse tipo de incentivo a novos escritores, sobretudo poetas?
Acho importante, porque possibilita ao autor alcançar um público um pouco maior do que alcançaria com uma publicação independente.

E o que espera de "Senhorita K"?
Como já disse Paulo Henriques Britto, o Brasil tem 300 leitores de poesia. Não imagino nenhuma grande vendagem nem revolucionar o gênero. Mas espero que seja o começo de um diálogo mais próximo com leitores, outros escritores e poetas.

Você está começando a escrever um romance que se passa na ditadura. Há algo que possa adiantar sobre ele? Por que esse tema o sensibilizou?

Eu vinha há alguns anos refletindo sobre a herança da violência. A gente fala muito sobre a tortura na ditadura e esquece que ela acontece até hoje, diariamente, em todas as delegacias e presídios. Só que o Herzog hoje se chama Amarildo. Por isso, quando falo da ditadura, não falo de 50 anos atrás. Eu diria que este futuro romance é ambientado na ditadura, mas se passa nos dias atuais.

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