Pé no chão,
sim, mas ao mesmo tempo movido pela originalidade de seus versos, que nesta
obra dividem a cena com elementos de outros gêneros. Assim é o escritorMarcos Bassini,
que lança nesta terça-feira, dia 10, o livro de poesias "Senhorita K"
(Ed. Patuá), fruto do Prêmio Edith –
Só para Poetas organizado por Marcelino Freire.
Influenciado pelo escritor Gonçalo Tavares, Bassini se desafia a contar,
através da poesia, o drama de uma personagem angustiada pela culpa, explorando
as questões afetivas, mas sobretudo as mais políticas e atuais.
Nesta
entrevista a Shahid o autor fala sobre o nascimento de
"Senhorita K", suas inspirações e expectativas, e adianta detalhes do
romance que está escrevendo, ambientado na ditadura militar. "A gente fala
muito sobre a tortura na ditadura e esquece que ela acontece até hoje. Só que o
Herzog hoje se chama Amarildo. Eu diria que este futuro romance (...) se passa
nos dias atuais", diz. Confira a conversa.
"Senhorita
K" é um livro de poesias que se propõe a contar, ao longo de capítulos, a
história de uma personagem atormentada pela culpa. Como nasceu essa ideia?
O prêmio que
possibilitou a publicação coincidiu com pesquisas que eu estava fazendo sobre o
período da ditadura. E sobre a dificuldade que temos de lidar com esse assunto,
aqui no país, muito mais que em qualquer país sul americano. Ao refletir sobre
a culpa nas relações afetivas através da Senhorita K – inspirada em Josef K, de
O Processo –, eu tentei traçar um paralelo com essa dificuldade de punir os
responsáveis por este período nefasto da nossa história.
Acha que sua
experiência em outras áreas – além de escritor, você é roteirista, redator e
compositor – influenciaram sua forma de escrever o livro?
Sem dúvida,
este livro não existiria – ao menos não dessa forma – se eu não trabalhasse com
isso. A presença de personagens, diálogos e os três atos do livro só estão aí
porque poeta, redator e roteirista habitam o mesmo corpo.
Que escritores
inspiraram seu estilo e mesmo a história de "Senhorita K"?
Na poesia,
acredito que a polonesa Wislawa Szymborska seja a grande referência. E Gonçalo
M. Tavares é sempre uma influência e inspiração.
A publicação
do livro é fruto da sua premiação no concurso Edith – Só para poetas. Como vê
esse tipo de incentivo a novos escritores, sobretudo poetas?
Acho
importante, porque possibilita ao autor alcançar um público um pouco maior do
que alcançaria com uma publicação independente.
E o que espera
de "Senhorita K"?
Como já disse
Paulo Henriques Britto, o Brasil tem 300 leitores de poesia. Não imagino
nenhuma grande vendagem nem revolucionar o gênero. Mas espero que seja o começo
de um diálogo mais próximo com leitores, outros escritores e poetas.
Você está
começando a escrever um romance que se passa na ditadura. Há algo que possa
adiantar sobre ele? Por que esse tema o sensibilizou?
Eu vinha há
alguns anos refletindo sobre a herança da violência. A gente fala muito sobre a
tortura na ditadura e esquece que ela acontece até hoje, diariamente, em todas
as delegacias e presídios. Só que o Herzog hoje se chama Amarildo. Por isso,
quando falo da ditadura, não falo de 50 anos atrás. Eu diria que este futuro
romance é ambientado na ditadura, mas se passa nos dias atuais.
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