segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Sísifo desce a montanha, de Affonso Romano de Sant'Anna


Se para algumas pessoas temas como angústia, morte, Deus ou limitações humanas são soturnos, para Affonso Romano de Sant'Anna essas são reflexões cotidianas. Seu novo livro de poesia Sísifo desce a montanha (Rocco) continua seu projeto poético, aprofundando questões de obras anteriores. Diretor da Biblioteca Nacional entre 1990 e 1996, criador do Sistema Nacional de Bibliotecase do PROLER (Programa de Promoção da Leitura), logo na epígrafe, Affonso evoca Clarice Lispector para avisar que Sísifo... é também um exercício de "deseroização" de si mesmo. Leia abaixo entrevista com o autor. 


Quanto tempo levou escrevendo e reunindo as poesias que compõem Sísifo desce a montanha? Os poemas abarcam qual período da sua vida?
Esses poemas foram escritos durante a vida toda. Cada poema foi escrito antes dele mesmo. Mas os exprimi, purguei, escrevi nos últimos anos. 


Como você escreve poesia? Anda com um caderno de anotações sempre à mão ou senta e escreve?
Ou ela me atropela ou eu a invoco. Caderninho ou qualquer papel urgente para anotar. Um dos segredos é estar atento ao que a gente sopra para a gente mesmo. E selecionar. Ou esperar amadurecer. 


Costuma retrabalhar muito os versos ou respeita a forma espontânea com que se manifestam?
Há poemas que levaram seis anos de trabalho explícito. Uns podem ser espontâneos, mas outros, por exemplo, os escritos durante a ditadura, contra a situação, eram sentidos por um lado e planejados por outro. 


Você já teve alguma crise de criatividade? Como aconteceu o desbloqueio?
A crise é normal.Várias vezes tive a certeza de que jamais escreveria poesia de novo. Quanto ao ensaio e à crônica, não pode haver bloqueio, é o escritor profissional que atua dentro e ao lado do outro instintivo. 


O programa de incentivo à tradução de escritores brasileiros no exterior, criado por você quando era presidente da Biblioteca Nacional, foi retomado. O que acha que pode acontecer nesse novo momento?
Ainda bem que foi ampliado e retomado. Há 20 anos foi um esforço de exportação de nossa cultura. Fizemos reuniões com agentes literários estrangeiros aqui, com diretores de suplementos literários estrangeiros, feiras internacionais, clipping de notícias para os brazilianistas (não havia internet) e oBrazilian Book Magazine, etc. Mas falta muita coisa. Acho que hoje deveria ter um projeto pra financiar não só os tradutores, mas até as editoras estrangeiras. Não dá para esperar mais 500 anos pra ver o Brasil acontecer. 


Você é um dos maiores divulgadores e batalhadores do incentivo à leitura, é o criador do PROLER. Como se leva uma pessoa adulta a gostar de ler? E uma criança?
Todo mundo tem direito à leitura, há técnicas diversas para isto. Há programas para babytecas, crianças no maternal e para adultos em asilos. A todo momento sei de histórias de operários, pescadores, aposentados que redescobrem a leitura. Dizer que só se aprende a gostar de ler na infância é papo de quem nunca trabalhou na área. 


Quais são seus planos agora?
Ihh! Bota plano nisto. O enigma vazio vai sair em italiano e a tradução para o francês está pronta. Desconstruir Duchamp está em alemão aguardando o editor.Barroco do quadrado à elipse já está em espanhol traduzido pelo Manolo Graña que traduziu também A grande rala do índio guarani. Para 2012 um novo livro de crônicas pela L&PMComo andar no labirinto, reedição de Análise estrutural de romances brasileirosMúsica popular e moderna poesia brasileira e talvez eu faça o terceiro volume de Poesias Reunidas (L&PM). Ah, sim, vou editar meus textos e os de Marina sobre Clarice Lispector, acompanhados da entrevista que fizemos com ela no MIS (Museu da Imagem e do Som) em 1977. E quem sabe o audiolivro com contos dela — Laços de família — que gravei sai em 2012?



Por Rodrigo Canuto e Valéria Martins 

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