Com quatro
romances publicados, escrita irreverente e paixão pelo que faz – sobretudo
pelas possibilidades da literatura –, Ana Paula Maia relança nesta terça-feira (18) O habitante das falhas subterrâneas (Oito e meio), agora para o público
jovem. Neste livro que marcou sua estreia na literatura, editado pela primeira
vez em 2003 (7Letras), a autora reconta a história de Ariel, jovem inquieto que
se lança a escrever sobre suas angústias e descrenças no mundo. Nesta conversa
com a Shahid, Ana Paula fala sobre inspirações e amadurecimento, elogia
a nova edição do livro e adianta sua próxima obra, De gados e homens, que sairá
pela Record em 2013.
O habitante das falhas subterrâneas é inspirado no clássico O apanhador no campo de centeio,
do escritor americano J.D. Salinger. Por que optou por essa referência? Como
foi escrever em primeira pessoa a história de um garoto de 17 anos em conflito?
Esse livro foi
escrito no início de 2002. Eu ainda tinha muitas lembranças da minha
adolescência, porém, ela não é contada no livro. Já as sensações e intenções do
personagem são semelhantes às de muitos adolescentes. O apanhador no campo de centeio foi um livro muito importante na minha
formação como leitora e escritora. O
habitante foi o primeiro
livro que escrevi e foi importante me pautar numa referência tão forte como a
do Salinger. A partir do segundo livro, caminhei por conta própria. Estar na
cabeça de um garoto de 17 anos não foi complicado. Pensei como eu pensava nessa
idade.
A primeira
edição de O habitante é de 2003, quase dez anos atrás. Por
que a ideia de agora adaptá-la ao público jovem? Que mudanças foram feitas para
a nova edição?
Nesta reedição tive o cuidado de retirar os palavrões, por
exemplo. E alguma apologia às drogas. É o mesmo livro, porém o personagem não é
um desbocado. A trama permanece e enxuguei algumas páginas das quais eu não
gostava. Essa edição está arejada, mais organizada e bonita. O livro ainda
conta com um índice de referências, pois, embora a história se passe no início
dos anos 2000, tem muitas referências pops de décadas anteriores.
O que mudou na escritora Ana Paula Maia ao longo desse
tempo?
Minha escrita se encontrou quando escrevi meu segundo romance (A
guerra dos bastardos, 2007) e posso dizer que se firmou quando escrevi o
terceiro (Entre rinhas de cachorros e porcos abatidos, 2009). Não é
fácil encontrar a própria voz na literatura, mas quando ela existe na sua
cabeça, na sua alma, ela sai.
Em 2006 você publicou o primeiro folhetim pulp da internet, a novela Entre rinhas
de cachorros e porcos abatidos. O que isso significou para a sua carreira
de escritora?
A publicação do folhetim em si significou pouco, mas encontrar o
Edgar Wilson fez toda a diferença para meus textos e para mim. Esse personagem
é parte viva da minha literatura.
Seu próximo romance, De
gados e homens, está para sair pela Record em 2013. O que podemos esperar
dele?
Esse livro é um projeto que eu já queria escrever faz uns três
anos. Antes, escrevi Carvão animal. Em De
gados e homens, o elemento sobrenatural aparece pela primeira vez, mas só
lendo o livro para saber como, se não estraga a surpresa. Edgar Wilson é o
protagonista dessa história que acontece dois anos depois de Carvão animal e, ao lado dele, alguns personagens
importantes surgem, como o caçador e capataz chamado Bronco Gil. Um tipo que me
agradou muito na história. O livro se desenrola num matadouro de gado bovino
numa região fictícia, mas que se parece com várias partes do Brasil. A cidade é
fictícia e os personagens também, mas o que acontece lá é real e faz parte de
nossas vidas.